sexta-feira, 29 de maio de 2009

- claro como água;

Depois do tiro, houve muita coisa de que me desviei; sua foto, por exemplo. Nunca mais permiti que ela me encarasse com o negrume engenhoso nos olhos, engenhoso demais. Eles me remetem àquele tempo suicida, em que eu podia fugir da vida. Tal feito só faz com que eu me lembre o quanto preciso eclipsá-la hoje. Aquele tiro maldito... sua vingança, eu sei, por toda a dor que lhe causei e por toda a angústia que lhe dissolveu como pó em água. Não existiria melhor artimanha, nunca conheci esse seu lado hostil. Os melhores desforços são os forjados por amor. Depois do tiro, minhas mãos tremem e eu desejo uma seqüela mais forte. Escondo-me na bruma espessa e revolvo as memórias em espiral. Prometera a ela naquele dia, e a partir disso minha vida pareceu se dividir em antes da promessa e depois da promessa. Fútil. Seu coração já desfalecia em mim e ela rogava pela eterna vivência. Num lapso de intuição, afirmei sem comiserações, "Se eu não morrer hoje, se não morrer hoje, não morro mais". A bruma gira mais e traz o negrume dos olhos tão perto que me perco. O espanto arregalou-lhe os olhos, e a escuridão remete-me até hoje à sua respiração sem passo. A rua tornou-se menor e vi abominação amanhecer na escuridão esbugalhada. Talvez tenha sido isso o estopim de sua razão, tão bem camuflada em seus rogos piedosos. Talvez a partir desse momento ela arquitetava a vingança em sua mente. Como nos primórdios, minha intuição se fez real em trinta segundos, e ela sorriu com os olhos tomados pelo fogo. Rubros. O tiro veio rápido do outro lado da rua, e fechei os olhos enternecido pela morte iminente. A morte não combinava com o peso morto aos meus pés, e pela primeira vez em minha vida falsa, senti demência. Ela perecia em sua crueldade calculista, e o sangue jorrava por todos os lados de seu corpo pequeno. Eu não morreria, e seria obrigado a viver pela promessa. Sem ela. Hoje seu amor me é claro como água, assim como o meu, mas sua desforra me tira o calor, seu plano cuidadoso. Faça-o viver. Faça-o sofrer. Sofrer como o pior possível. Depois do tiro, em meu suicídio só há contradições. Eu não poderia viver sem ela, ela não poderia viver sem mim. Eu a amava, ela me amava. Mas ela me odiava também.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

- deixe a vida me ensinar de novo;

A esperança desce, dura como aço, porque você sempre vai voltar. Eu desisto de esperar que você sofra algum acidente por aí e me deixe para sempre, porque você sempre acaba voltando e me fazendo perder toda a sanidade que consegui nos últimos meses. É tão fácil para você... eu estou arrumando a minha vida, droga, o que é que você quer de mim? Já me tirou minha inocência, minha credulidade, um pedaço do que eu era capaz de sentir, o que sobrou? Já calei meus gritos e engoli meu sangue por você. Já te amei, te odiei, já imaginei que você era fruto de mim mesma. Perdi o rumo, e agora eu me achei de novo, vai embora... Eu não aguento mais, não precisava ser assim! Eu podia crescer feliz, sabe? Seria tão simples, não teria nada traumático para atormentar minhas noites, não teria nenhum vulto a me seguir por todos os lados. Não precisaria ver o que eu vi, suportar, fugir pela minha própria vida. Ninguém é capaz de sair inteiro depois disso. Eu me afundei e cheguei no limite, e agora você quer me empurrar para baixo de novo, e eu não posso fazer nada, não posso dizer nada para ninguém. Eu não aguento mais! Vou fazer drama sim, vou chorar e arrancar meus cabelos, porque eu não merecia isso, ninguém merece! Não sou melhor do que ninguém, não sei lidar com isso, não sei o que fazer. Eu ainda quero ser criança e fingir que esse tipo de coisa não existe. Eu quero que você me deixe em paz, me deixe viver a minha vida, porque eu preciso fingir que nada aconteceu e que vai ficar tudo bem... Você me fez amadurecer em um mês, e agora tira essa maturidade de mim como se ela nunca tivesse existido. Perto de você, eu sou uma criancinha assustada. Já estraguei coisas demais na minha vida por sua causa, coisas que poderiam ter dado certo. Eu não posso mais. É sempre assim, a esperança desce, chega lá embaixo, fria como gelo, e me dá arrepios. Porque eu sei, eu sempre soube, que você vai acabar voltando, que você nunca vai deixar de voltar.

(eu sei que deve ser muito frustrante, mas ignora esse texto. por favor.)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

- recomeço;

Certa vez ela ouviu uma amiga dizer; que não se pode desistir do amor, pois o amor é o recomeço de tudo.
Tudo que é no mínimo significante na sua vida, vai dar errado pelo menos uma vez; e cabe apenas a você recomeçar. E se você desiste do amor, desiste automaticamente de todos os recomeços; o que seria da sua vida então?
Apenas algo que não merece ser escrito, ou descrito; não importa. E foi isso que ela viu quando resolveu levantar da cama e analisar a sua vida...
Agora tudo passará a ser a história de um recomeço;
não a de uma desilusão;
por mais que até hoje ela chore.'

(olha, até que aos treze anos eu escrevia bonitinho? é de um super old blog que eu tive e que - obviamente - já apaguei. 'ela' era eu, e chorar era tão simples...)

domingo, 17 de maio de 2009

- mais, mais, mais;

Eu estou andando pela rua. As coisas são as mesmas, mas é como se eu tivesse olhos novos. O verde está mais verde e, ah, todas as cores me fazem reverência. O céu está escuro, vai chover, mas eu não apresso o passo. Fecho os olhos por um instante, e de repente eu estou dançando, e girando, e o mundo já não importa mais. É isso. Um salto atrás do outro sem ver aonde vou cair. Acho que eu poderia cantar também.. Eu cantaria uma música sobre como uma decisão pode mudar minha vida, e inspiraria sonhos, risos e vontades. Traria luz, como qualquer outro anjo que voasse por aí. Seria fácil... uma brisa agita meus cabelos, agora eu sou o mar, e vou tecendo espetáculos grandiosos. Vai ficando frio, e a aurora boreal se agita como nunca. Eu vou para o alto e as estrelas dançam com a minha música. Giro pelo ar, cada vez mais rápido, é tudo um borrão e isso me faz rir. Surge um dia novo, já que eu atraio o Sol para mais perto. A luz me aquece e eu já não choro mais... O vestido antigo pesa em meu corpo, agora eu sou a imperatriz. A chuva vem e eu já não posso mais. As nuvens me deixam no chão, delicadamente. Olho para os lados e me surpreendo: ninguém reparou que o Sol agora brilha mais. Ninguém viu a purpurina dourada que desce do céu e deixa tudo cintilando. Até as minhas lágrimas parecem rir da seriedade do mundo. Abro os braços e juro que existe algo mais. A rua parece mais bonita.

(quem disse que sonhos não podem ser escritos?)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

- shadow of the day;

Estou tão cansada... é tudo a mesma coisa e outra coisa totalmente diferente, de uma hora para a outra. Parece que as coisas cismam em ser exatamente do jeito que eu não quero que elas sejam. Tudo que precisa mudar, não muda. Tudo que podia ficar assim, passa, e eu fico. Eu sempre fico.
Porque é tão difícil assim? Eu queria ainda ser criança, queria saber amar e desamar, esquecer, não deixar marcas, queria não me sentir tão exausta. Afinal, é tudo a mesma coisa, sempre a mesma rotina, o mesmo ritmo, as mesmas implicâncias, e na hora que eu penso que encontrei algo que podia ser para sempre do mesmo jeitinho, sem mudar, sem me irritar, isso vai e muda. Pior, vai embora. Sempre vai embora. E eu fico.
Às vezes me dá vontade de bater o pé e teimar, bem no estilo criança contrariada. Vontade de gritar com a vida com todas as minhas forças, como se ela fosse mudar se soubesse o quanto eu quero que mude. Como se eu precisasse informar alguém, porque tem que ser tão difícil? Eu não tenho controle de nada, e quando eu finalmente posso escolher, é uma opção difícil contra outra mais difícil ainda. É horrível quando cada parte de você vai para um lado diferente. É horrível ter essa escolha nas mãos, porque todas as consequências tem a sua marca. Isso drena todas as minhas energias e eu tenho vontade de deitar e dormir, por um longo tempo, e pensar que se eu adiar essas escolhas mais um pouquinho ninguém vai lembrar que eu precisava fazê-las. Pensar que todo mundo podia esquecer comigo. Nada nos tiraria a felicidade assim.
É nessa hora que eu sinto falta de um Deus. Eu podia olhar para o céu e me dirigir a ele, ao invés de ver seus olhos vermelhos o tempo todo. Ele me absolveria de toda a minha culpa e lavaria as minhas mãos. Eu poderia até dizer que o que aconteceu foi por vontade dele... mas isso seria fugir, e eu sempre fujo.
Dessa vez, não. Dessa vez, eu fico, enquanto tudo vai embora, e muda mais uma vez. Dessa vez, é por escolha minha, o que não torna tudo mais fácil, mas pelo menos me parece um pouco mais digno. Não vou lavar as minhas mãos nem dizer que eu sou a senhora da razão, não vou culpar um Deus que eu não acredito pelas minhas decisões. Talvez isso me faça chorar um pouco mais, não sei, talvez só faça doer mais um pouquinho do que já está doendo. E, embora seja nitidamente desconfortável, com a dor eu já aprendi a lidar.

(olha, um texto que faz um pouquinho de sentido...)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

- self destruction;

Respira fundo, esquece um pouco. Isso. A sensação continua rodando sua cabeça e confundindo seus sentidos. Fica calmo, vai passar. É tudo coisa da sua cabeça. Sabe o que é isso? A culpa te rondando. Culpa contra você mesmo, egoísmo, é. Você estragou tudo, não foi? Mas que merda, porque você sempre estraga tudo? Tá, desculpa, eu devia estar cuidando de você mesmo. Apóia a cabeça aqui. Respira fundo de novo. Isso. Tá melhor? Quer um pouco d'água? Sua cabeça balança no ritmo da música. Up, down. Você não tem idéia de como isso me ajuda, saber o que você vai fazer em seguida. Abaixo, agora. Se ao menos seu coração não estivesse tão pequeno... É como se fosse um vácuo sofrendo pressão do ar lá fora, querendo entrar. Porque você não deixa o ar entrar? Nem imagino o que você deve estar sentindo. Quer uma ajuda? Tem algo que eu possa fazer? Não tem sangue, não tem lágrimas. É aquele tipo de dor que sai por debaixo das unhas, pela raiz dos cabelos. Quer mais um cobertor? Você está tremendo. Eu estou tremendo. Ou é tudo a mesma coisa? Eu ainda escuto o seu coração bater, ele ainda está ali, eu juro! Volte! Ainda tem amor no mundo. Não é tão ruim assim... Você precisa ser o pior em todas as coisas? Você procura o melhor que todo mundo tem e o pior que você nem tem. Não deve ser tudo isso. Pára de se contorcer, nem está doendo de verdade. Quer que eu cante para você dormir? E porque diabos está tão frio por aqui? Você está do meu lado, mas eu me sinto tão sozinha... Entendi o motivo do vácuo: o ar está muito poluído por aqui. Não merece te conhecer assim... Não merece conhecer ninguém.

(cada dia eu me acho mais louca.)