quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

- 2009 relâmpago;

Está difícil escrever um texto de fim de ano, pois em 2009 tudo aconteceu muito rápido, e ao mesmo tempo. Eu mal tinha me acostumado à idéia de um ano novo e a gripe suína já atacava todo mundo, e eu começava a entrar numa rotina de estudos muito difícil. E aí vem o enem roubado e os vestibulares irritantes e as intrigas familiares... É, sem falar no meu sobrinho, que será muito bem-vindo, mas também inesperado. E quando eu vi, faltavam poucos meses para eu deixar a escola, e nada poderia ter me preparado para isso. Me perdi na confusão de decisões a serem tomadas e deveres a serem cumpridos. Pois é, esse ano talvez tenha sido o que eu mais me irritei e me descabelei.
E eu posso dizer que não teria sobrevivido sem sequelas a esse 2009 conturbado sem algumas pessoas fundamentais. Bom, eu acho que nem preciso falar da minha mãe, certo? Me acompanhando em todas as provas possíveis, fazendo chá de mil ervas pra me acalmar, estando ao meu lado o tempo inteiro, mesmo eu estando extremamente insuportável. Não sei como eu teria feito tudo que fiz sem ela pra me dizer quando eu estava sendo irracional. E o meu pai, que trabalhou absurdos esse ano pra pagar todos os cursos extracurriculares, e ainda arranjava tempo pra perguntar como eu estou e ver um filme. Mal posso dizer o quanto significou cada vez que ele disse que estava orgulhoso de mim.
E o meu irmão, que com certeza teve um ano ainda mais difícil do que o meu.. com tantas coisas pra enfrentar. Que, apesar de todas as nossas brigas, esteve comigo. Que teve tantos obstáculos e ultrapassou todos. Que me deu tanto orgulho pra lembrar. E que vai ser, e todo mundo aqui sabe que sim, um pai maravilhoso. E ah, meu coração esse ano parece que dobrou de tamanho, pois duas pessoas entraram de vez na minha família e eu gosto tanto delas que nem sei explicar. A Lu, que esteve comigo todos os dias desses últimos meses, me apoiou pra tudo. E o Lupe, que ainda é tão pequenino e tem um coração que bate tão rápido e forte que parece um milagre...
Bom, e ainda tem os meus avós, os tios e tias, os primos e primas... Todo mundo que me enche de alegria simplesmente por existir, estar lá, torcendo por mim. Cada um que ligou pra perguntar como estavam indo as minhas provas não sabe o quanto me fez bem, o quanto isso vale. Nada substitui uma família que acredita em você e faz questão de dizer isso o tempo inteiro. Nada substitui essa família, pra mim. É... talvez esse ano tenha sido mesmo o que eu mais me irritei. Mas, com certeza, também foi o ano em que eu mais amei, que eu mais me emocionei, que eu mais me senti feliz e protegida. Talvez toda essa confusão tenha acontecido só pra me mostrar o quanto eu tenho gente do meu lado. Nem em um milhão de palavras eu vou poder dizer o quanto isso é importante. Acho que então só me resta agradecer... obrigada, a todos vocês, por serem a minha família, e por me darem a certeza de que qualquer problema que vier eu posso enfrentar: vocês ainda estarão do meu lado.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

- imundície;

Ele estava lá, e eu só conseguia pensar, e pensar, e os sussurros saíam por entre meus lábios antes que eu pudesse refrear, e perdi o controle; como uma fenda que se abre na barragem e, nem tente, alguns segundos depois, foi-se tudo. Sentia-me febril e tremia e mordia os lábios frios enquanto gorgolejavam as palavras pouco distintas umas das outras; encolhi-me num canto e ah, olhe só, tremia mais. As palavras, três, apenas três. Disse-me-disse e repeti. E nem todo o fervor que incitei em mim mesma deixava sair o tanto que eu desejava... o quanto eu queria que, se Ele existisse, atendesse minhas preces. O chão estava tão sujo. Eu estava tão suja. Meus sussurros eram sujos, e a forma como eu o olhava como se pudesse fazê-lo eu mesma com a força do pensamento era imunda. Nadávamos na imundície rasa de nossa própria decadência. Nos afogávamos com os pés no chão. Eu mal podia respirar e, no entanto, a podridão se infiltrava por minhas narinas e era absorvida por minha pele; me vinha uma ânsia de gritar por socorro, um socorro inútil, abafado por minha própria solidão. Não haveria ninguém. Era só ele ali. Ninguém mais, a não ser aquele que eu desejava que morresse.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

- dedicação total a você!

Farei da solidão uma pessoa e do azar uma benção. Farei poesia das tristezas e nada nunca vai doer. É, é assim que eu vou arrumar a minha vida. Mentaliza, pessoal. Vibrações positivas ajudam. É só acreditar! Tudo ficará bem, é só você entrar naquela igreja da esquina, sabe, que é pobre mas honesta e tem fé em Deus. Todo poderoso. Ele me ama, sabia? E eu tenho que amá-lo. É melhor obedecer, cara, tá nos mandamentos. Senão, o demônio, ó. Só não esquece do dízimo. É tudo tão lindo e feliz que eu vou acordar todo o dia pra ver o sol nascer. Vou correr pela rua com um shorts esportivo e um sorriso colgate. Darei bom dia para todo mundo, que lindo! Porque todo mundo realmente se importa comigo, oh, Sadiaaa! Exatamente, coma presunto todas as manhãs, com maionese hellmans e bisnaguinha panco, você será feliz. Todo mundo vai te amar, de verdade, cara. Tá na TV. A gente se vê por aqui! Engraçado, eu não me vejo em porra de lugar nenhum. Mas tudo bem, nem tudo está perdido. Vá ver um psicólogo, tome uns antidepressivos e veja como o mundo é fodão. Acorde todo dia e agradeça pelo ar que respira. E não esquece do filtro solar! Não, pense pelo lado bom, você tem saúde. Pensa cara, olha que sorte: você não tem câncer, taram! Nada pode te machucar. Amigo, isso aí é tédio, sério. Você está triste só porque você quer. Tem tanta coisa boa pra se ver... só não olha para aquele lado ali, ok? Combinado? Beleza então, continue em frente. Nada acontece por acaso. Nadinha! Tudo que vai volta, tá vendo aquele filho da puta ali? Relaxa. Um dia ele vai ter o dele. Só não espera de pé. Grande justiça do mundo! E você aí triste, por nada. Tsc, tsc. Decidi: a partir de hoje eu vou ser feliz, não importa o que aconteça! Sabe porquê? O amor existe, cara, não é o máximo? Tá todo mundo super interessado nele e nos benefícios que ele traz. Fique feliz por isso! Porque realmente, todo mundo se interessa se você está bem ou não. Sério! Você mora num condomínio com câmeras e porteiros que te amam e te protegem. Nada pode te acontecer. Ninguém vai te machucar. Iupi. Você não está sozinho. Deus sempre estará contigo! E não, claro que nada disso é clichê: funciona! Mudou a minha vida. Vá para o Emagrecentro mudar a sua.

(FODAM-SE:)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

- prisma, miscelânia, balança e salto;

Miscelânia, adoro essa palavra, miscelânia. É um tudo muito mais bonito. Assim que vejo as coisas: um redemoinho colorido que até me lembra uma nuvem às vezes... É assim que eu vejo. No meio de tanta cor pra se olhar, quem vai prestar atenção nas sombras negras que às vezes cobrem tudo? Nem eu reparo, se eu não quiser. Mas é difícil não querer... eu sou a única que sei o quanto elas estão ali. O quanto elas podem cobrir se eu deixar de me esforçar por um instante. Porque ninguém sabe o quanto a miscelânia pode ser frágil. Ninguém sabe que todas as minhas cores ficam quase... transparentes às vezes. Sinto tudo ali e de repente, num suspiro, numa lágrima, num solavanco... lá se vão.
E minhas emoções, então, como um facho de luz. Basta um prisma pra que descubram todos os meus segredos. Eu não saberia me entender de outro jeito... A balança pende de um lado para o outro, coisas boas, coisas ruins. Ah, tão irreversivelmente racional que até me irrita... sou a única pessoa do mundo que consegue ser tão racional e irracional ao mesmo tempo; tudo por causa da miscelânia: ela me sobrecarrega. Eu pifo. E então posso ser qualquer coisa, posso dançar sem música. Cores e luzes e ah, esse texto é feito só disso. Posso vê-las passando por meus olhos, qualquer um poderia vê-las se quisesse. Eu acho.
Mas minhas cores estão meio apagadas e o medo é uma sombra constante. Minha janela me traz a luz do dia e o mistério da noite. O caso é que as sombras me assustam, principalmente quando vem uma daquelas que me fazem perceber o quanto tudo está perto do fim. Perto, e longe, cabe a mim e ao acaso decidir. Pois uma decisão errada, um momento impensado, um prisma que cega os olhos, um salto: e pronto, acabou-se tudo.

(ir-ra-cio-nal.)