quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

- 2009 relâmpago;

Está difícil escrever um texto de fim de ano, pois em 2009 tudo aconteceu muito rápido, e ao mesmo tempo. Eu mal tinha me acostumado à idéia de um ano novo e a gripe suína já atacava todo mundo, e eu começava a entrar numa rotina de estudos muito difícil. E aí vem o enem roubado e os vestibulares irritantes e as intrigas familiares... É, sem falar no meu sobrinho, que será muito bem-vindo, mas também inesperado. E quando eu vi, faltavam poucos meses para eu deixar a escola, e nada poderia ter me preparado para isso. Me perdi na confusão de decisões a serem tomadas e deveres a serem cumpridos. Pois é, esse ano talvez tenha sido o que eu mais me irritei e me descabelei.
E eu posso dizer que não teria sobrevivido sem sequelas a esse 2009 conturbado sem algumas pessoas fundamentais. Bom, eu acho que nem preciso falar da minha mãe, certo? Me acompanhando em todas as provas possíveis, fazendo chá de mil ervas pra me acalmar, estando ao meu lado o tempo inteiro, mesmo eu estando extremamente insuportável. Não sei como eu teria feito tudo que fiz sem ela pra me dizer quando eu estava sendo irracional. E o meu pai, que trabalhou absurdos esse ano pra pagar todos os cursos extracurriculares, e ainda arranjava tempo pra perguntar como eu estou e ver um filme. Mal posso dizer o quanto significou cada vez que ele disse que estava orgulhoso de mim.
E o meu irmão, que com certeza teve um ano ainda mais difícil do que o meu.. com tantas coisas pra enfrentar. Que, apesar de todas as nossas brigas, esteve comigo. Que teve tantos obstáculos e ultrapassou todos. Que me deu tanto orgulho pra lembrar. E que vai ser, e todo mundo aqui sabe que sim, um pai maravilhoso. E ah, meu coração esse ano parece que dobrou de tamanho, pois duas pessoas entraram de vez na minha família e eu gosto tanto delas que nem sei explicar. A Lu, que esteve comigo todos os dias desses últimos meses, me apoiou pra tudo. E o Lupe, que ainda é tão pequenino e tem um coração que bate tão rápido e forte que parece um milagre...
Bom, e ainda tem os meus avós, os tios e tias, os primos e primas... Todo mundo que me enche de alegria simplesmente por existir, estar lá, torcendo por mim. Cada um que ligou pra perguntar como estavam indo as minhas provas não sabe o quanto me fez bem, o quanto isso vale. Nada substitui uma família que acredita em você e faz questão de dizer isso o tempo inteiro. Nada substitui essa família, pra mim. É... talvez esse ano tenha sido mesmo o que eu mais me irritei. Mas, com certeza, também foi o ano em que eu mais amei, que eu mais me emocionei, que eu mais me senti feliz e protegida. Talvez toda essa confusão tenha acontecido só pra me mostrar o quanto eu tenho gente do meu lado. Nem em um milhão de palavras eu vou poder dizer o quanto isso é importante. Acho que então só me resta agradecer... obrigada, a todos vocês, por serem a minha família, e por me darem a certeza de que qualquer problema que vier eu posso enfrentar: vocês ainda estarão do meu lado.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

- imundície;

Ele estava lá, e eu só conseguia pensar, e pensar, e os sussurros saíam por entre meus lábios antes que eu pudesse refrear, e perdi o controle; como uma fenda que se abre na barragem e, nem tente, alguns segundos depois, foi-se tudo. Sentia-me febril e tremia e mordia os lábios frios enquanto gorgolejavam as palavras pouco distintas umas das outras; encolhi-me num canto e ah, olhe só, tremia mais. As palavras, três, apenas três. Disse-me-disse e repeti. E nem todo o fervor que incitei em mim mesma deixava sair o tanto que eu desejava... o quanto eu queria que, se Ele existisse, atendesse minhas preces. O chão estava tão sujo. Eu estava tão suja. Meus sussurros eram sujos, e a forma como eu o olhava como se pudesse fazê-lo eu mesma com a força do pensamento era imunda. Nadávamos na imundície rasa de nossa própria decadência. Nos afogávamos com os pés no chão. Eu mal podia respirar e, no entanto, a podridão se infiltrava por minhas narinas e era absorvida por minha pele; me vinha uma ânsia de gritar por socorro, um socorro inútil, abafado por minha própria solidão. Não haveria ninguém. Era só ele ali. Ninguém mais, a não ser aquele que eu desejava que morresse.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

- dedicação total a você!

Farei da solidão uma pessoa e do azar uma benção. Farei poesia das tristezas e nada nunca vai doer. É, é assim que eu vou arrumar a minha vida. Mentaliza, pessoal. Vibrações positivas ajudam. É só acreditar! Tudo ficará bem, é só você entrar naquela igreja da esquina, sabe, que é pobre mas honesta e tem fé em Deus. Todo poderoso. Ele me ama, sabia? E eu tenho que amá-lo. É melhor obedecer, cara, tá nos mandamentos. Senão, o demônio, ó. Só não esquece do dízimo. É tudo tão lindo e feliz que eu vou acordar todo o dia pra ver o sol nascer. Vou correr pela rua com um shorts esportivo e um sorriso colgate. Darei bom dia para todo mundo, que lindo! Porque todo mundo realmente se importa comigo, oh, Sadiaaa! Exatamente, coma presunto todas as manhãs, com maionese hellmans e bisnaguinha panco, você será feliz. Todo mundo vai te amar, de verdade, cara. Tá na TV. A gente se vê por aqui! Engraçado, eu não me vejo em porra de lugar nenhum. Mas tudo bem, nem tudo está perdido. Vá ver um psicólogo, tome uns antidepressivos e veja como o mundo é fodão. Acorde todo dia e agradeça pelo ar que respira. E não esquece do filtro solar! Não, pense pelo lado bom, você tem saúde. Pensa cara, olha que sorte: você não tem câncer, taram! Nada pode te machucar. Amigo, isso aí é tédio, sério. Você está triste só porque você quer. Tem tanta coisa boa pra se ver... só não olha para aquele lado ali, ok? Combinado? Beleza então, continue em frente. Nada acontece por acaso. Nadinha! Tudo que vai volta, tá vendo aquele filho da puta ali? Relaxa. Um dia ele vai ter o dele. Só não espera de pé. Grande justiça do mundo! E você aí triste, por nada. Tsc, tsc. Decidi: a partir de hoje eu vou ser feliz, não importa o que aconteça! Sabe porquê? O amor existe, cara, não é o máximo? Tá todo mundo super interessado nele e nos benefícios que ele traz. Fique feliz por isso! Porque realmente, todo mundo se interessa se você está bem ou não. Sério! Você mora num condomínio com câmeras e porteiros que te amam e te protegem. Nada pode te acontecer. Ninguém vai te machucar. Iupi. Você não está sozinho. Deus sempre estará contigo! E não, claro que nada disso é clichê: funciona! Mudou a minha vida. Vá para o Emagrecentro mudar a sua.

(FODAM-SE:)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

- prisma, miscelânia, balança e salto;

Miscelânia, adoro essa palavra, miscelânia. É um tudo muito mais bonito. Assim que vejo as coisas: um redemoinho colorido que até me lembra uma nuvem às vezes... É assim que eu vejo. No meio de tanta cor pra se olhar, quem vai prestar atenção nas sombras negras que às vezes cobrem tudo? Nem eu reparo, se eu não quiser. Mas é difícil não querer... eu sou a única que sei o quanto elas estão ali. O quanto elas podem cobrir se eu deixar de me esforçar por um instante. Porque ninguém sabe o quanto a miscelânia pode ser frágil. Ninguém sabe que todas as minhas cores ficam quase... transparentes às vezes. Sinto tudo ali e de repente, num suspiro, numa lágrima, num solavanco... lá se vão.
E minhas emoções, então, como um facho de luz. Basta um prisma pra que descubram todos os meus segredos. Eu não saberia me entender de outro jeito... A balança pende de um lado para o outro, coisas boas, coisas ruins. Ah, tão irreversivelmente racional que até me irrita... sou a única pessoa do mundo que consegue ser tão racional e irracional ao mesmo tempo; tudo por causa da miscelânia: ela me sobrecarrega. Eu pifo. E então posso ser qualquer coisa, posso dançar sem música. Cores e luzes e ah, esse texto é feito só disso. Posso vê-las passando por meus olhos, qualquer um poderia vê-las se quisesse. Eu acho.
Mas minhas cores estão meio apagadas e o medo é uma sombra constante. Minha janela me traz a luz do dia e o mistério da noite. O caso é que as sombras me assustam, principalmente quando vem uma daquelas que me fazem perceber o quanto tudo está perto do fim. Perto, e longe, cabe a mim e ao acaso decidir. Pois uma decisão errada, um momento impensado, um prisma que cega os olhos, um salto: e pronto, acabou-se tudo.

(ir-ra-cio-nal.)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

- só na teoria

Com o avanço no conhecimento a que chegamos hoje, é possível uma análise mais detalhada sobre as idéias e expectativas provenientes de cada fato histórico. Ao compararmos o que nossos antepassados esperavam do mundo ao que ele realmente é, várias ilusões se contrastam com a realidade.
Há apenas vinte anos, o maior símbolo da divisão do mundo entre duas ideologias ia ao chão, e as pessoas esperavam um futuro próximo de união e paz. A mesma expectativa de inclusão e homogeneidade foi originada na mente dos brasileiros quando nosso país se tornava uma república, em 1889, o modelo político das grandes potências. Essa visão idealizada de um mundo mais uniforme vem se firmando ao longo dos anos, uma mistura de sonho capitalista e igualitário, pela qual tantas mudanças foram realizadas, desde a Revolução Francesa.
E o que conseguimos com tudo isso está claro nos dias de hoje. Metodicamente falando, a era capitalista está no seu auge, como o esperado; e a cultura mundial se massifica numa só. Mas será que é isso que buscávamos? Os ideais de igualdade e solidariedade pelos quais tantas mortes ocorreram só existem na teoria; não é isso que conta para a justiça, a lei, o poder executivo. O que as pessoas pretendiam ao reivindicar mudanças era uma inclusão social, uma justiça mais cega, uma distribuição dos privilégios; não é essa a essência de nossa evolução. O fundamento da globalização é a manipulação das massas, e só parte do mundo está sujeita a ele. As desigualdades são gritantes por todos os lados: entre países, entre estados, entre pessoas que vivem na mesma rua.
Tanta coisa mudou, e tantas outras permanecem até hoje. O muro de Berlim caiu, a União Soviética não existe mais, mas Cuba sofre até hoje com um bloqueio econômico já sem fundamento. O mundo que foi projetado torna-se uma utopia, que se consolida a cada aceitação silenciosa a que nos sujeitamos todos os dias.
A verdade é que a justiça do mundo não depende de modo objetivo do regime político sob o qual vivemos, ou de quanta informação chega até nós. A igualdade é feita por pessoas, pelos seus interesses, e por suas diferenças. O mundo não é uma mentalidade só, e não poderá ser enquanto cada um não ceder uma parte de seus desejos e aceitar algo completamente diferente. E, até que isso aconteça, as revoluções e lutas ideológicas realizadas até hoje terão sido em vão.

(dissertações políticas indignadas mode on)

sábado, 31 de outubro de 2009

- pequenino;

É incrível, aquele pequenino tão forte, tão perfeito, já me traz reviravoltas. Tão frágil... minha fé pende sobre a fineza de uma agulha. Tanto temi, intimamente, que o pior acontecesse; pessimismo inalterável, é. Mas aqueles vinte minutos... Saudável, disse o médico, e eu ri, ri como se me dissesse que o mundo já não é mais tão injusto. Como poderia haver qualquer erro ou má intenção, se aquele pequenino estava ali, se ele existia, impecável, lindo, grandioso... Como o futuro seria ruim, se ele está a caminho, se aquelas mãozinhas estão abertas para o mundo? Ah, me senti, como me senti. Eu sinto hoje as palavras pequenas como nunca vi. Nada é suficiente perto daquela sensação. Eu ri e chorei, e acreditei que havia um Deus que consertaria todas as coisas - como poderia não haver? Como o mundo pode estar perdido sem ordem nem razão, se meu sobrinho cresce perfeito, saudável, e absurdamente lindo? Meu menininho. Devo tanto... Agradeço tanto. Perto daquilo, esqueço tudo, e só ele importa. Meu passado não é mais. Obrigada.

(ah, tá bobo, né? mas eu tô boba. ultrassom *-*)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

- caixa de pandora;

Libertei todos os monstros. Eles me rondam, agora, e posso ver todos eles como nunca pude - ou nunca quis. Não quero sentir dor, mas sei que preciso, pois guardá-los de novo seria peso demais, e todo o esforço teria sido em vão... Então eu corro. Eu corro enquanto as lembranças cegam meus olhos, e não percebo quando trombo com um ou com outro. Eu continuo correndo mesmo quando só o que posso ouvir é você rindo de mim enquanto... Ah, corro mais, sinto as lágrimas na horizontal, mas sei que valerá a pena se não parar de correr. Agora eu posso soluçar. Não me falta mais fôlego. Como nunca pude, eu posso agora, e sei que a dor que me aferroa os músculos é melhor do que a que está prestes a me alcançar. Eu corro, mesmo que não funcione, e dói. Os monstros estão agora por todos os lados, e eu tenho medo, porque eles não querem ir embora, por mais que eu grite e esperneie. Por tanto tempo estiveram tão calmos, não sabia que teriam toda essa força... Minha força, pois sem mim eles não são nada, e sem eles eu não sou eu. Eles me definem, mesmo escondidos, todo esse tempo. Quem eu serei agora? Não quero saber, não quero falar, quero esquecer tudo, mas correr não adianta. Eu preciso senti-los, mas não quero... não de novo. Não quero aguentar. Então, ah, eu corro mais. Eles voam, planando sobre o chão, mais velozes do que eu, e me dominam. Tento erguer a mão, mas eles já estão dentro de minha cabeça. Eu tenho medo. Eu não quero mais. Eu grito e choro, me deixa. Bato os pés, eles podiam ir embora. Mas, diabos, sem eles eu não sou eu. E, sem mim, eles não são nada.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

- a dor;

No outono, a brisa empurra levemente as ramas e em sua sutileza desprende as velhas folhas... uma a uma... que caem numa sutil dança de sofrimento, transformando a paisagem em um mosaico de galhos secos delicadamente melancólico e poético. Tão simples, como as parreiras de solo pobre e clima severo trazendo em seu sofrer os melhores vinhos. Tão verdadeiro como o choro de um rebento em sua primeira inspiração. Dor! Turva a inércia dos boçais em futuro pródigo, inibe o colapso estático da morte, rompe retrógrados paradigmas. Transforma! Transforma em algo bom aquilo que não pode ser vivido.
Em seu balançar, o pêndulo do velho relógio agride silenciosamente o ar em sua dinastia de escrever o tempo. Um barco singra sorrateiro o espelho dos rios, rasgando sua face serena em busca de seu destino. O rigor do movimento fere as centelhas da vida, muitas vezes percebido apenas no estrondo das remotas geleiras rompidas pelas estações mais quentes, mas quase sempre dissimula as grandes máculas que há escondidas na solidão de um poeta.
Ostentar a dor como a morada, torna-se nobre quando o destino é traduzido nas escolhas mais certas. E quando as chagas acalentam os sentidos pela vida em sua plenitude, pelos sonhos bons, pelo sacrifício a quem se ama. Então clamo: Que venham os colossais tornados e vulcões! Que sangrem as terras, revolte os mares e arrebatem o tudo! E por fim, curvem seu ápice em meu peito!... pois sereno... viverei a beleza sublime de sofrer por alguém que vale a pena.

(meu exemplo - meu pai.)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

- Zé Balinha e os artifícios vigentes;

Era José Mário da Bala, José Mário de nascença e o resto dos botecos de São Paulo. Sustentava-se como funcionário da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, e trabalhava de cinco a sete horas por dia, com variações, alternando entre o sono e a sede da tarde. Conhecia a periferia e certos brejos do centro, graças às andanças que o ganha-pão lhe provinha. Três de seus trinta e dois anos - glamourosos anos, como costumava dizer - foram dedicados à EMTU, os dois primeiros como motorista, agora como cobrador. Anunciava as maravilhas do ofício como se fosse rei das ruas da metrópole, e conhecesse cada andar de seus prédios culminantes, ou prevesse suas chuvas e enchentes abundantes do verão. Com o tempo e a praticidade nata do trabalhador, desenvolvera uma habilidade instintiva para com o negócio. Dormia facilmente com as chacoalhadas do ônibus, o fechar de olhos se tornara um processo natural. Mas, à primeira pisada no freio do motorista, alertava-se e ali estava, pronto para as contas e o dinheiro, tanto que parou de dormir à noite - lhe faltavam os trambolhões. Tinha quatro filhos, dois meninos e duas meninas, porque acreditava no amor e não em Deus. A esposa, Maria da Anunciação, o chamava de Zé Balinha, assim como os íntimos, e a cada filho deram o nome de seus pais e mães. Arminda, Marta, João e Clauzins estudavam na escola pública ao lado de casa, e José Mário os via só à noite, e na missa aos domingos. Era cristão por conveniência, para evitar que Maria lhe falasse sobre os pecados e o coisa ruim. Conheceram-se e casaram-se na capelinha de Santa Efigênia, duas ruas acima da residência modesta, e José Mário virou cristão para que ela o amasse. Não tinha fé no céu, no inferno ou na danação eterna, só queria morrer de velhice, e ser enterrado num daqueles caixões sem estofado que lhe lembrassem o ônibus, para que pudesse descansar em paz, e sonhar com vaivéns. Diria-se no epitáfio: Aqui jaz José Mário da Bala, rei das ruas, que dorme sacolejando. Pareceu-lhe adequado dizer isso à mulher, que pestanejou e piscou os olhos ignorantes, sem entender, mas prometeu cumprir o que lhe dissera. Mal sabia Zé Balinha, ou tampouco Maria da Anunciação, muito menos Arminda, Marta, João e Clauzins, que a morte o levaria cedo, num dia de verão da semana seguinte, por um acidente envolvendo o ônibus do ofício, um prédio culminante, uma enchente fatídica e alguns pedestres, na frente da sede da EMTU, ao final de trinta e dois glamourosos anos de império metropolitano e descrença cristã.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

- a-explicação-que-não-explicou-nada;

O amor. É assim que minha mente raciocina quando penso em como começar um texto. Sempre frases do tipo O amor em sua forma mais simples, ou O amor de sempre, e quase nunca. Meio enigmático, eu sei, mas é irritante. Ele me dá começos, depois eu fico empacada pensando em como continuar... Porque eu nunca sei sobre o que vou escrever no começo, juro. Só abro a merda da página de postagem e fico sobrecarregando minha mente, que na maioria das vezes faz uma birra imensa até sair alguma coisa. E gostar dessa coisa é algo extremamente raro.
Na verdade eu decidi postar para tentar explicar porque eu não ando postando (entendeu?), e já estou me confundindo toda; o básico. Na verdade, sempre que eu faço um texto sem delírios complicados ou com sinceridade em excesso, sai essa bosta. É irritante (já disse isso?). Um monte de palavrões embolados com alguns conectivos e ironias sem humor, que demora três parágrafos e meio para dizer o que normalmente sairia em três palavras. Imagina quando eu resolver terminar o meu livro (não achei palavra melhor, mas está mais para um protótipo de livro, ou um projeto de livro. Quem sabe até um esboço de projeto de livro), a nhaca que não vai sair.
Ok, sem enrolações. Não estou muito certa, mas o motivo das minhas ausências prolongadas daqui tem alguma coisa a ver com O-estudo-para-vestibular, A-gripe-suína-infernal, A-gravidez-da-minha-cunhada, O-tédio, A-ausência-de-livros-estimulantes e etc. Minha mente já está lotada e pedindo obras revolucionárias. Está pior que ônibus em horário de almoço ou trânsito para descer a serra em feriado. Um inferno. Acho que precisava de um coma induzido por uns dias, só para ver se a situação melhora aqui. De qualquer forma, eu só consigo escrever (decentemente, amigo) com a cabeça limpa (ou mal-lavada, não vamos exagerar, certo?). E isso, ultimamente, está difícil.
Comecei falando de amor e vou acabar falando de amor, só para deixar esse texto um pouquinho mais aproveitável e com algum simbolismo estilo hollywood. Fiquei uns cinco minutos olhando para a página de postagem aqui pensando no que falar. Se revisar este blog, você vai perceber que eu já viajei demais sobre esse assunto - de todos os ângulos possíveis. É que o amor é mesmo um merdinha de um traiçoeiro, sabe, que me acelera os pensamentos até eu não entender nada. Vira-casaca. Vamos fazer assim? Eu termino esse texto e finjo que não estou ligando. E você faz o favor de fingir que acredita. Ok?

(o texto mais idiota da minha vida, bjs.)

sábado, 8 de agosto de 2009

- vermelho-sangue;

A caneta escorregava da minha mão suada, mas eu não parei. Sabia que seria impossível continuar depois que parasse. Abri minha mente para cada detalhe tão escurecido pelo tempo, e percebi que lembrava de tudo, como se fosse ontem, como se eu tivesse revivido cada lembrança dia após dia, ano após ano. Percebi que tremia, mas não parei, não tirei os olhos do papel, nem quando as lágrimas começavam a cair e borrar o que eu acabara de escrever. Soluçar tornava tudo mais difícil ainda. Tentei respirar fundo, mas o ar parecia estar preso na minha garganta. Soltei a caneta, automaticamente, quando as lembranças ficaram mais cruéis. Enterrei a cabeça nas mãos, joguei algumas coisas na parede, roí as unhas até a carne, e voltei a escrever. Minhas mãos pesavam como chumbo. Fora apenas o começo, mas eu me sentia exausta. Cada pedacinho do meu corpo me dizia para desistir e não lembrar mais. Toda a minha covardia gritava nos meus ouvidos, você não vai conseguir, não vai conseguir. Mas eu continuei. Eu sabia que seria horrível, e sabia que precisaria de uma força que não tinha; sabia que talvez chegasse em limites que nunca chegara antes, mas não parei. Minhas mãos ficaram mais suadas ainda do esforço, e uma das minhas unhas chegava a sangrar. O vermelho do meu sangue me cegou os olhos, e agora eu não chorava mais, só escrevia, furiosamente, como se minha vida dependesse disso. E talvez dependesse mesmo. Mas não importava, mesmo que não desse certo, mesmo que fosse tudo inútil. Não importa no que isso vai dar. Eu só continuei escrevendo, e vou continuar, até que não reste mais nada para lembrar.

domingo, 2 de agosto de 2009

- vasos, mesas, cristais e a ira.

Fechei os olhos e estilhacei todos eles. Opacos, brilhantes e odiosamente delicados, sobre mesas de cristal reluzentes e quebradiças. Arremessei-os pela sala e vi o verde se misturar com o vermelho quando os cacos se espalhavam. Acrescentei um azul à mistura. Gordos, magros, compridos, baixinhos; são todos a mesma coisa quando se quebram. Virei mesas com toda a força que podia, sentindo o vibrar das paredes quando desabavam no chão. Seria capaz de dar risada se não estivesse tão furiosa. Achei umas taças, quebrei-as também, e agora o chão era uma miscelânia tão colorida que me dava dor de cabeça. Isso só me deixou mais nervosa, e agarrei uma coleção de vasos coloridos tão idênticos que me insultavam. Pisei nos cacos que restaram com uma fúria doentia, sentindo o estalar fraco quando quebravam novamente, cada vez menores, até que um pó brilhante grudou na sola dos meus pés descalços - e sangrentos, reparei. Continuei chutando tudo que podia, e cada chute era um protesto contra tudo que era certo, tudo que me lembrava do quando eu podia ser errada, do quanto eu podia ser horrível. Estilhacei a suavidade, a ordem, o caráter. Agora eu quase não podia ver o branco das paredes, e gritei de raiva, pois até em pedaços eles me impediam de não me importar, e eu não queria. Não queria mais fazer esforço nenhum. Cada caco de cristal refletia tudo que eu não queria mais ver, agora multiplicado mil vezes. Milhares de olhos zangados me fitavam e eu sabia que eram meus. Minha aparência era repugnante, e só o que pude fazer foi lutar mais, mesmo sabendo que era em vão. Desabei e me afoguei em pós multicoloridos, sentindo um prazer histérico ao conseguir diminuí-los o suficiente.
Abri os olhos. Minha ira ainda era a mesma.

domingo, 19 de julho de 2009

- 'no trabalho, no amor, acordados, em sonho...'

Abster-me sem ressalvas de falar sobre a morte, em tempos como esses, me parecia admirável; mas nem eu mesma me senti capaz de esconder a covardia debochada em minhas decisões. Tanto faz, eu dizia, o que sei sobre ir embora? Nada mais, nada menos do que todos sabem, não é mesmo? Talvez sim, talvez não; ou talvez a certeza que me acomete de que o pulsar de minhas veias é tudo que me resta, tão irrefutável desde a primeira vez que pude abrir os olhos, seja a verdade enlouquecedora e dolorosa. Como bem sei, não se deve escrever sobre o que não se conhece. Mas o fato de tão pouco se saber sobre a morte coloca todos num pé de igualdade de que não posso desviar, e aqui estou eu, desfilando meus medos de novo, acariciando cada esquivo detalhe de minhas convicções na esperança de que elas desapareçam, ou de que eu consiga tirá-las da cabeça.
Já dizia Cecília Meirelles, "A vida é a vigilância da morte, até que o seu fogo veemente nos consuma sem a consumir"... acho que sua poesia me causa tanta familiaridade por esse medo em comum que ela parece ter comigo. Maldito seja, ela já se foi e já conhece tudo, desde 1964. Eu estou aqui, aguentando as calúnias da globalização e o desespero dos infrutíferos planos de salvação do mundo, no século vinte e um. Mas não se deixem enganar; não há nada que eu deseje menos do que conhecer a morte. Não há nenhuma nobreza nisso: pura covardia. Tão densa que me cega às vezes, e quando finalmente posso ver, corro a derramar palavras há muito combinadas. Não sei porque continuo fazendo isso, de nada me adianta.
Afinal, a morte é assim: impenetrável. Só se pode especular, e eu cansei de especular sobre coisas que não acredito, cansei de refletir como se fosse encontrar uma resposta. Lembro-me de noites em que deitava na cama e olhava para o alto e pensava em como devia ser o nada. Não como dormir, algo mais próximo da inexistência, certamente. Lembro-me de tremer e forçar minha mente a outros caminhos, músicas, frases, coisas que faria no dia seguinte... Mas sempre houve cacos de esperança que se quebravam outra vez, e mais outra, cada vez que eu percebia a iminência da morte. Macabro, uma adolescente de dezessete anos falando de seus receios sobre morrer, com tanta vida pela frente. Mas, engraçado, a vida sempre me pareceu tão frágil, com suas débeis condições de sobrevivência. Reconheço, mais uma vez, com a cruel sinceridade sobre mim mesma, a covardia tentando humilhar o que prezo, mas não me convenço; sei que vou perdê-la, e temo isso mais que tudo. Pois, sem existir, o que mais há para temer?



(...)Morte, morte.
Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir. - Cecília Meirelles.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

- treze em doze;

Chorou quando treze eram doze e os diabos já não viriam mais. Desapontei-me. Chorou feio, soluçando como se a cada inspiração três saltos fossem necessários. Conheci a melancolia teatral à força; talvez precise lhe transmitir alguns ensinamentos. Deveras, eu sempre soube. Não gosto que se desfaçam assim como se eu forjasse planos ardilosos para sobreviver. Nunca fui um canalha aristocrata. Traria orgulho do cabeçalho ao rodapé se soubesse tamanhas engenhocas. Agora vejam, toda essa tempestade! Reconheço uma verdade ínfima, mas de que adiantam os rodeios? Treze dias, e a obsessão carregava-se a cada hora - eu temia. Não podia imaginar, mas fiquei insatisfeito pela ausência de meus instintos; deveria saber que apenas doze horas distintas seriam equivalentes a toda essa franqueza. Confesso que já burlei algumas regras pessoais. Mas não, dessa vez não fora minha culpa! Eu faria muito pior se quisesse. Entretanto - entre, tanto, claro, mais que nunca - tantos dias felizes não foram suficientes, foram? E ela pôde me atirar aos cães com toda a sua dignidade imaculada, ah, diabos! Se conseguisse asas, eu devaneava para longe até que sua fé perdesse um compasso. Quem sabe assim poderia fazê-la ver, poderia tirar de sua face o orgulho cego e mostrar como sofro também? Essa seria a minha prova - a dor, o ácido. Qualquer vivente poderia identificar a minha falta de frieza. Afinal, se pudesse arquitetar, não usaria isso em favor à minha própria sorte? Não condiz com meu célebre auto-sacrifício. Não condiz com a vontade de morrer por ela, e apenas por ela... Nem por mim mesmo conceberia tal feito.

sábado, 11 de julho de 2009

- adrenalina;

O caso é que - absurdamente - você anda perdendo a graça para mim, como eu nunca achei que fosse acontecer, porque desde que eu estava na sexta série e achava que entendia de tudo você fez meu coração bater mais rápido. E, como toda sábia e fútil pré-adolescente, eu pensei que tinha encontrado aquele primeiro amor de que todos falam e ninguém nunca encontra (só aquela menininha do filme Meu Primeiro Amor, mas ele morre no final, então não faz sentido, faz?). Hoje eu reconheço que não tem um pingo de emoção nessa história toda, a não ser aquelas causadas quando seu corpo libera uma certa adrenalina na corrente sanguínea: o coração acelera, você respira mais rápido e ah, o resto eu não me lembro. De qualquer forma, eu não aguento mais essa lenga lenga toda de te-desejo-e-você-me-deseja-mas-não-conta-para-ninguém. Não que eu sinta necessidade de espalhar por aí, mas o proibido da coisa está perdendo a excitação. Meu coração não acelera mais, não com tanta frequência.
Ok, não vou mentir, você ainda causa em mim aquelas palpitações e eu ainda gosto quando você me pega nos braços (quem não gostaria?); a diferença é que... como eu posso explicar? Hoje, quando minha consciência lutava corajosamente com meus instintos e você exercia todo o seu poder de persuasão, eu abracei uma almofada em meu peito e esperei que tudo desandasse. Esperei uns cinco minutos, senão mais. E eu ouvi um ritmo descompassado, mas não era eu que prendia o fôlego, nada disso vinha de mim. Você, com o coração acelerado, sem um pingo de álcool no sangue? Inédito. E excepcionalmente brochante.
Cadê toda aquela sua pose de machão incorruptível que não tem queda por mulher nenhuma? Ah vá, você nunca foi um Johnny Gato Depp, mas ficar todo acelerado só por causa dos carinhos de sempre? Faça-me o favor. Desde quando você é assim? Desde quando você perde o tédio antes que eu? Talvez seja efeito das férias. Ha, não estou enganando ninguém, estou?
Eu não queria perder você - não que eu te tenha, mas dá para entender o sentido. Nem imagino o tédio de ficar com os mesmos menininhos agitados por natureza de sempre. É legal um rolo constante, para variar. Então vê se tenta... se entediar de novo. Aí eu te animo e tudo fica bem.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

- válvula de escape;

Não vou negar que estar em casa tem seu lado bom. Eu só percebi que sentia falta do cheiro do meu quarto quando entrei nele outra vez, e é legal ter as suas coisas num armário e não numa mala, pra variar. Não quero fazer dramas nem encher o saco de ninguém, mas a minha paciência já está no limite e eu preciso de uma válvula de escape. Eu não queria estar de volta. Eu quero sair daqui de novo. Pronto, vai ser muito mais fácil encarar os meus pais depois disso.
Sem exageros; aqueles dois cômodos em São Paulo onde eu passei essa semana me parecem mais minha casa do que aqui, e também são muito mais atraentes. Não é só pela independência, porque lá eu e minha prima decidimos tudo; desde o que vamos comprar para o almoço até o que vamos fazer à noite. É só que estar lá me mantém longe de tudo; é na cidade do lado, mas parece que meus problemas não me alcançam. Eu passei uma semana mais ativa do que nunca e mais tranquila do que nunca.
E agora, pronto, tive que voltar e tudo é uma avalanche sem precedentes. Todo mundo parece que cai em cima de mim; meus pais com sermões sobre responsabilidade inútil, minha rotina mais tediosa e irritante do que nunca. Bela recepção. Eu corri tanto atrás de mudança quando fui para longe, e passei a semana achando que tinha conseguido, mas não consegui porra nenhuma! Agora eu estou de volta e é a mesma merda de sempre, não é? Minha raiva voltou como se esses dias felizes não tivessem existido.
Então, foda-se! Eu desisto de tentar me acalmar, nada vai mudar depois disso. Eu vou voltar a fazer as mesmas coisas de sempre até que minha prima me socorra e eu vá para lá de novo. Pelo menos, depois de escrever esse projeto de texto (muito mal feito, por sinal) cheio de palavrões, tudo vai ser um pouco mais fácil.

terça-feira, 30 de junho de 2009

- sopro;

Ela foi lançada tão sutilmente no ar que se poderia encarar como um passo de dança, se não fosse o som de seus ossos se quebrando como papelão. Talvez seja minha imaginação, mas penso que naquele minuto pude contar as batidas do coração que restavam. Seus cabelos lisos se espalharam, o que me pareceu irônico, já que eu sempre achei cachos mais poéticos. Mas eu não desistiria, e sua morte seria linda e leve como ela esperava, e eu também. Eu faria poesia.
Pensei numa frase feita, e me pareceu clichê. Como descrever as ondas que o próprio vento pareceu contornar ao tom do impacto? Como explicar o reflexo da cor azul gritante sobre o giz da sua pele? E aonde todo o meu amor faria jus ao propósito da coisa? Não posso com dores gritantes, impossíveis de se camuflar. Quero algo como lírios rosados ou o assobiar da maresia, porque não? Como uma raiz branca incrustada na rocha, ela se espalharia pelo céu enquanto o chão corria de seus pés.
Assim, parece fácil. Apenas uma bailarina que rodopiava no ar, a bailarina mais linda do mundo.
Mas aonde eu esconderia os meus pedaços?

(macabro, é.)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

- coração verde e laranja;

Olho para o ano que vem, tão incerto, e o medo me alcança. Não será mais o mesmo lugar todos os dias, as mesmas pessoas, as mesmas risadas. Tudo vai mudar. Mas o mais difícil não vai ser tentar passar em uma faculdade decente ou viver longe dos pais numa outra cidade... Vai ser deixar isso tudo para trás, esse último ano que tem sido o melhor de todos que me lembro.
Agora, ao me lembrar da confusão de rostos e lágrimas e abraços, não entendo muita coisa. Tudo gira ao redor de uma mesma lembrança, uma certeza que acho que não conseguirei esquecer tão cedo... Lembro de cada esforço, cada nervoso que passei; cada tempo gasto na mesma coisa, mesmo quando tudo parecia desmoronar e a esperança ia morrendo vagarosamente. E agora, não importa mais. Se ganharmos, se perdermos, não importa mais; porque nós fizemos o nosso papel, nós nos unimos, e eu sei que valeu a pena. Tornou tudo inesquecível.
Não dá para não lembrar dos ensaios improvisados nos intervalos entre as aulas, em que todo mundo ajudava a arrastar as cadeiras e aplaudia quando a gente terminava, e dava dicas, tentava ajudar. Das milhões de vezes em que a Lê disse que ia desistir e no final era ela quem se esforçava mais. Dos surtos de otimismo do Paulo; "a gente vai ganhar, relaxa, tem tempo!"; dos discursos do Tom que faziam todo mundo se conscientizar, dos abraços que a gente ganhou quando terminou a dança de casais, de todo mundo chorando com a Lu cantando (arrasando, por sinal) e se abraçando e dizendo que nunca ia esquecer um ao outro. Como esquecer da primeira vez que a gente cantou o grito do corredor, todo mundo animado com todo o desafio pela frente e uma determinação enorme? As gostosas da 3s3, a primeira derrota, a primeira vitória. Todo mundo de amarelo no teatro, o porco aranha, os AE CAROL, a coreografia que deixou todo mundo de boca aberta, a Gabi de cleópatra! A 3s7 abafando os gritos de todo mundo.
Eu penso em tudo isso, e não sei o que dizer, pois o resultado da luta para ganhar o desafio foi muito maior... E o prêmio foi mais importante do que qualquer coisa. E, depois de todos esses anos no singular, eu sinto mais do que nunca que saio dali com muita coisa boa para lembrar quando as coisas ficarem difíceis. Valeu a pena, eu sei, e sei que todo mundo entende isso como eu. À minha sala esse ano eu agradeço, vocês foram maravilhosos, vocês me fizeram mais feliz do que nunca. Obrigada.


(chega senão vou chorar de novo. :')

segunda-feira, 15 de junho de 2009

- welcome;

Um dia qualquer, não, qualquer mesmo. Nada de especial. É incrível, pois hoje eu vejo que a brisa era apenas uma brisa comum, sem ritmo, sem som; e apesar de o céu ostentar uma lua e um sol ao mesmo tempo, eu já havia visto isso antes. Mas ah, naquele momento eu sentia que todas as minhas expectativas infantis e sobrenaturais tinham sido atendidas, e que só faltava alguns anjos descerem do alto e tocarem a ponta do meu nariz para tudo ser um sonho muito, muito colorido. Não havia música, mas eu podia dançar. E seria fácil, já que a gravidade fora deixada para trás.

(metade da metade da metade de um texto que não dá pra mostrar. eu não tô conseguindo escrever nada de útil ultimamente mesmo.)

terça-feira, 9 de junho de 2009

- todo o amor que houver nessa vida;

Cansei de viver assim, tateando paredes no escuro. Minha alma pede por algo mais e eu sinto que não serei feliz desse jeito... Não fui feita para apenas assistir o amor, não depois de recolhê-lo em minhas mãos. Hoje eu só o percebo se procurar, e às vezes faço isso inconscientemente, de tão miscível que ele se tornou com a carência de uns tempos para cá. Às vezes tenho vontade de gritar. Percebo a imensidão por trás disso antes de atribuir a histeria à minha fúria adolescente. Queria ser assim, meio mãe de mim mesma, por inteiro. Queria que meu jeito racional absurdo pudesse controlar as coisas que eu sinto de verdade, não é legal se dividir assim. Aquela parte que se desespera, e aquela que acha o desespero ridículo. Não sei como as coisas são realmente. Só queria ser capaz de me refrear.
Já faz tanto tempo... já moldei o amor de todas as formas possíveis, encarei-o de todos os ângulos. A dor não passa. Ela dorme, mas não passa. Não sei porque meu subconsciente insiste em sonhar com você, não sei porque o mundo gira e traz cada vez um pedaço da minha memória de volta. Estava tudo melhor, e isso me tornou mais frágil. Tudo não tende a melhorar com o tempo? Queria entender o que acontece comigo nessas horas em que o ar parece mais feio e o dia demora a nascer. Estou cansada dessa ladainha, esse vai e volta; estou cansada até de falar sobre isso e do jeito como isso me tira a inspiração. Mas às vezes é preciso... Queria que essa merda toda não parecesse tão ridícula, essa contradição constante e irritante. Metade de mim quer esconder a dor como um segredo vergonhoso, mas há aquela parte que precisa dizer a todo mundo que eu estou sofrendo e preciso... do que eu preciso? Não sei, e não me importa, na verdade. Eu só quero paz, por mais que isso exija algumas trapaças, qualquer coisa. Eu quero sentir meu corpo todo relaxar por um tempo e esquecer das tensões que você criou ali. E só de pensar nisso já sinto a exaustão pesar como se meu sangue todo fosse chumbo congelado.

(sincero, ridículo, eu sei. é sempre assim.)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

- claro como água;

Depois do tiro, houve muita coisa de que me desviei; sua foto, por exemplo. Nunca mais permiti que ela me encarasse com o negrume engenhoso nos olhos, engenhoso demais. Eles me remetem àquele tempo suicida, em que eu podia fugir da vida. Tal feito só faz com que eu me lembre o quanto preciso eclipsá-la hoje. Aquele tiro maldito... sua vingança, eu sei, por toda a dor que lhe causei e por toda a angústia que lhe dissolveu como pó em água. Não existiria melhor artimanha, nunca conheci esse seu lado hostil. Os melhores desforços são os forjados por amor. Depois do tiro, minhas mãos tremem e eu desejo uma seqüela mais forte. Escondo-me na bruma espessa e revolvo as memórias em espiral. Prometera a ela naquele dia, e a partir disso minha vida pareceu se dividir em antes da promessa e depois da promessa. Fútil. Seu coração já desfalecia em mim e ela rogava pela eterna vivência. Num lapso de intuição, afirmei sem comiserações, "Se eu não morrer hoje, se não morrer hoje, não morro mais". A bruma gira mais e traz o negrume dos olhos tão perto que me perco. O espanto arregalou-lhe os olhos, e a escuridão remete-me até hoje à sua respiração sem passo. A rua tornou-se menor e vi abominação amanhecer na escuridão esbugalhada. Talvez tenha sido isso o estopim de sua razão, tão bem camuflada em seus rogos piedosos. Talvez a partir desse momento ela arquitetava a vingança em sua mente. Como nos primórdios, minha intuição se fez real em trinta segundos, e ela sorriu com os olhos tomados pelo fogo. Rubros. O tiro veio rápido do outro lado da rua, e fechei os olhos enternecido pela morte iminente. A morte não combinava com o peso morto aos meus pés, e pela primeira vez em minha vida falsa, senti demência. Ela perecia em sua crueldade calculista, e o sangue jorrava por todos os lados de seu corpo pequeno. Eu não morreria, e seria obrigado a viver pela promessa. Sem ela. Hoje seu amor me é claro como água, assim como o meu, mas sua desforra me tira o calor, seu plano cuidadoso. Faça-o viver. Faça-o sofrer. Sofrer como o pior possível. Depois do tiro, em meu suicídio só há contradições. Eu não poderia viver sem ela, ela não poderia viver sem mim. Eu a amava, ela me amava. Mas ela me odiava também.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

- deixe a vida me ensinar de novo;

A esperança desce, dura como aço, porque você sempre vai voltar. Eu desisto de esperar que você sofra algum acidente por aí e me deixe para sempre, porque você sempre acaba voltando e me fazendo perder toda a sanidade que consegui nos últimos meses. É tão fácil para você... eu estou arrumando a minha vida, droga, o que é que você quer de mim? Já me tirou minha inocência, minha credulidade, um pedaço do que eu era capaz de sentir, o que sobrou? Já calei meus gritos e engoli meu sangue por você. Já te amei, te odiei, já imaginei que você era fruto de mim mesma. Perdi o rumo, e agora eu me achei de novo, vai embora... Eu não aguento mais, não precisava ser assim! Eu podia crescer feliz, sabe? Seria tão simples, não teria nada traumático para atormentar minhas noites, não teria nenhum vulto a me seguir por todos os lados. Não precisaria ver o que eu vi, suportar, fugir pela minha própria vida. Ninguém é capaz de sair inteiro depois disso. Eu me afundei e cheguei no limite, e agora você quer me empurrar para baixo de novo, e eu não posso fazer nada, não posso dizer nada para ninguém. Eu não aguento mais! Vou fazer drama sim, vou chorar e arrancar meus cabelos, porque eu não merecia isso, ninguém merece! Não sou melhor do que ninguém, não sei lidar com isso, não sei o que fazer. Eu ainda quero ser criança e fingir que esse tipo de coisa não existe. Eu quero que você me deixe em paz, me deixe viver a minha vida, porque eu preciso fingir que nada aconteceu e que vai ficar tudo bem... Você me fez amadurecer em um mês, e agora tira essa maturidade de mim como se ela nunca tivesse existido. Perto de você, eu sou uma criancinha assustada. Já estraguei coisas demais na minha vida por sua causa, coisas que poderiam ter dado certo. Eu não posso mais. É sempre assim, a esperança desce, chega lá embaixo, fria como gelo, e me dá arrepios. Porque eu sei, eu sempre soube, que você vai acabar voltando, que você nunca vai deixar de voltar.

(eu sei que deve ser muito frustrante, mas ignora esse texto. por favor.)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

- recomeço;

Certa vez ela ouviu uma amiga dizer; que não se pode desistir do amor, pois o amor é o recomeço de tudo.
Tudo que é no mínimo significante na sua vida, vai dar errado pelo menos uma vez; e cabe apenas a você recomeçar. E se você desiste do amor, desiste automaticamente de todos os recomeços; o que seria da sua vida então?
Apenas algo que não merece ser escrito, ou descrito; não importa. E foi isso que ela viu quando resolveu levantar da cama e analisar a sua vida...
Agora tudo passará a ser a história de um recomeço;
não a de uma desilusão;
por mais que até hoje ela chore.'

(olha, até que aos treze anos eu escrevia bonitinho? é de um super old blog que eu tive e que - obviamente - já apaguei. 'ela' era eu, e chorar era tão simples...)

domingo, 17 de maio de 2009

- mais, mais, mais;

Eu estou andando pela rua. As coisas são as mesmas, mas é como se eu tivesse olhos novos. O verde está mais verde e, ah, todas as cores me fazem reverência. O céu está escuro, vai chover, mas eu não apresso o passo. Fecho os olhos por um instante, e de repente eu estou dançando, e girando, e o mundo já não importa mais. É isso. Um salto atrás do outro sem ver aonde vou cair. Acho que eu poderia cantar também.. Eu cantaria uma música sobre como uma decisão pode mudar minha vida, e inspiraria sonhos, risos e vontades. Traria luz, como qualquer outro anjo que voasse por aí. Seria fácil... uma brisa agita meus cabelos, agora eu sou o mar, e vou tecendo espetáculos grandiosos. Vai ficando frio, e a aurora boreal se agita como nunca. Eu vou para o alto e as estrelas dançam com a minha música. Giro pelo ar, cada vez mais rápido, é tudo um borrão e isso me faz rir. Surge um dia novo, já que eu atraio o Sol para mais perto. A luz me aquece e eu já não choro mais... O vestido antigo pesa em meu corpo, agora eu sou a imperatriz. A chuva vem e eu já não posso mais. As nuvens me deixam no chão, delicadamente. Olho para os lados e me surpreendo: ninguém reparou que o Sol agora brilha mais. Ninguém viu a purpurina dourada que desce do céu e deixa tudo cintilando. Até as minhas lágrimas parecem rir da seriedade do mundo. Abro os braços e juro que existe algo mais. A rua parece mais bonita.

(quem disse que sonhos não podem ser escritos?)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

- shadow of the day;

Estou tão cansada... é tudo a mesma coisa e outra coisa totalmente diferente, de uma hora para a outra. Parece que as coisas cismam em ser exatamente do jeito que eu não quero que elas sejam. Tudo que precisa mudar, não muda. Tudo que podia ficar assim, passa, e eu fico. Eu sempre fico.
Porque é tão difícil assim? Eu queria ainda ser criança, queria saber amar e desamar, esquecer, não deixar marcas, queria não me sentir tão exausta. Afinal, é tudo a mesma coisa, sempre a mesma rotina, o mesmo ritmo, as mesmas implicâncias, e na hora que eu penso que encontrei algo que podia ser para sempre do mesmo jeitinho, sem mudar, sem me irritar, isso vai e muda. Pior, vai embora. Sempre vai embora. E eu fico.
Às vezes me dá vontade de bater o pé e teimar, bem no estilo criança contrariada. Vontade de gritar com a vida com todas as minhas forças, como se ela fosse mudar se soubesse o quanto eu quero que mude. Como se eu precisasse informar alguém, porque tem que ser tão difícil? Eu não tenho controle de nada, e quando eu finalmente posso escolher, é uma opção difícil contra outra mais difícil ainda. É horrível quando cada parte de você vai para um lado diferente. É horrível ter essa escolha nas mãos, porque todas as consequências tem a sua marca. Isso drena todas as minhas energias e eu tenho vontade de deitar e dormir, por um longo tempo, e pensar que se eu adiar essas escolhas mais um pouquinho ninguém vai lembrar que eu precisava fazê-las. Pensar que todo mundo podia esquecer comigo. Nada nos tiraria a felicidade assim.
É nessa hora que eu sinto falta de um Deus. Eu podia olhar para o céu e me dirigir a ele, ao invés de ver seus olhos vermelhos o tempo todo. Ele me absolveria de toda a minha culpa e lavaria as minhas mãos. Eu poderia até dizer que o que aconteceu foi por vontade dele... mas isso seria fugir, e eu sempre fujo.
Dessa vez, não. Dessa vez, eu fico, enquanto tudo vai embora, e muda mais uma vez. Dessa vez, é por escolha minha, o que não torna tudo mais fácil, mas pelo menos me parece um pouco mais digno. Não vou lavar as minhas mãos nem dizer que eu sou a senhora da razão, não vou culpar um Deus que eu não acredito pelas minhas decisões. Talvez isso me faça chorar um pouco mais, não sei, talvez só faça doer mais um pouquinho do que já está doendo. E, embora seja nitidamente desconfortável, com a dor eu já aprendi a lidar.

(olha, um texto que faz um pouquinho de sentido...)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

- self destruction;

Respira fundo, esquece um pouco. Isso. A sensação continua rodando sua cabeça e confundindo seus sentidos. Fica calmo, vai passar. É tudo coisa da sua cabeça. Sabe o que é isso? A culpa te rondando. Culpa contra você mesmo, egoísmo, é. Você estragou tudo, não foi? Mas que merda, porque você sempre estraga tudo? Tá, desculpa, eu devia estar cuidando de você mesmo. Apóia a cabeça aqui. Respira fundo de novo. Isso. Tá melhor? Quer um pouco d'água? Sua cabeça balança no ritmo da música. Up, down. Você não tem idéia de como isso me ajuda, saber o que você vai fazer em seguida. Abaixo, agora. Se ao menos seu coração não estivesse tão pequeno... É como se fosse um vácuo sofrendo pressão do ar lá fora, querendo entrar. Porque você não deixa o ar entrar? Nem imagino o que você deve estar sentindo. Quer uma ajuda? Tem algo que eu possa fazer? Não tem sangue, não tem lágrimas. É aquele tipo de dor que sai por debaixo das unhas, pela raiz dos cabelos. Quer mais um cobertor? Você está tremendo. Eu estou tremendo. Ou é tudo a mesma coisa? Eu ainda escuto o seu coração bater, ele ainda está ali, eu juro! Volte! Ainda tem amor no mundo. Não é tão ruim assim... Você precisa ser o pior em todas as coisas? Você procura o melhor que todo mundo tem e o pior que você nem tem. Não deve ser tudo isso. Pára de se contorcer, nem está doendo de verdade. Quer que eu cante para você dormir? E porque diabos está tão frio por aqui? Você está do meu lado, mas eu me sinto tão sozinha... Entendi o motivo do vácuo: o ar está muito poluído por aqui. Não merece te conhecer assim... Não merece conhecer ninguém.

(cada dia eu me acho mais louca.)

terça-feira, 28 de abril de 2009

(...)

Então, o que é o amor? Sem clichês, eu quero a essência da coisa. Um diferencial. Vai, pensa nisso como um diagnóstico. Para que serve o amor? Não vou ser dramática e dizer que só serve para fazer as pessoas sofrerem. Mas não sou sonhadora o suficiente para achar que é a melhor coisa do mundo. Não importa se é bom ou ruim, ou se não é nenhum dos dois. Tudo tem uma definição imparcial, eu só quero uma que vá um pouco além do que está no dicionário.
(...)
Ok, eu vou para o inferno. Fiz tudo errado. Eu sempre faço tudo errado. Mas não é bem por isso que eu acho que mereço um castigo. Egoísmo, isso sim é errado, quando você age de acordo com os próprios interesses e ainda fica inventando uns motivos altruístas para tentar encobrir. Eu tento enganar a mim mesma mas não dá. A verdade é que eu não conto nada para ela por que eu não quero ver sua cara de decepção, e muito menos sua tentativa frustrada de conter a decepção. A verdade é que eu fiz aquela merda de novo porque eu tive uma vontade enorme de fazer, e fiz. Não pensei em mais nada. Não pensei nela na hora. Só depois.
(...)
Olha só, a garota ridícula se fazendo de coitada outra vez. É o que todo mundo diria. Por isso que eu tenho meus segredos.
(...)
Ha, sejamos sinceros. Eu estou te evitando, sabe? Para não lembrar o que eu fiz com você, comigo, com a coisa toda. O quanto eu sou idiota, versátil e sem escrúpulos. Quando eu paro para pensar assim eu percebo que eu realmente só me importo comigo mesma. Então, faz favor de parar de me torturar? Menino mau. Pare de fazer as coisas desse seu jeito certo, o certo não funciona comigo. Para de tentar me agradar. Só finge que você nunca existiu, porque é disso que meu corpo precisa. Sem marcas.
(...)
A verdade é que as pessoas são sensíveis. Elas amam suas coisas, sua casa, algumas poucas pessoas e sua estabilidade, cada uma a seu jeito. Eu queria sentir um amor assim altruísta que me fizesse esquecer de mim mesma um pouco. Eu sou um lixo de pessoa ou todo mundo pensa assim, e ninguém fala? Falar disso me faz um pouco melhor?
(...)

(uns pedaços de um texto aí, grande demais pra por aqui. é um daqueles montes de textos em que eu escrevo tudo que tá se passando aqui, e que, obviamente, eu não mostro pra ninguém. divirtam-se com a minha mente conturbada.)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

- girls just wanna have fun;

E ele perguntou, "Quem é você?", e eu disse, "Todas as suas preocupações embaladas numa pessoa só, pior, numa coisa que fala e pode sair contando as coisas por aí." Não consegui que ele se assustasse. Na verdade só ganhei um sorriso do tipo mais sincero possível: o irônico. Ironia mesmo é que eu cumpro tudo que prometo e dessa vez tinha que dar errado, eu ganharei mais sorrisos irônicos e morrerei de raiva. É por isso que eu não gosto de mentir. Se eu dissesse a verdade dessa vez, contaria para ele (em segredo) que eu sou o fruto de todos os seus desejos. Ha, mas é muito mais legal vê-lo ignorante quanto a mim, mesmo que me despreze e não saiba que precisa de mim como precisa de oxigênio. Tudo bem, eu faço meu papel mesmo assim. Toda vez que ele esquecer como é sentir o fogo por debaixo da pele eu apareço de noite e o deixo louco, ele nunca vai saber que não sou um pedaço dos seus sonhos sem sentido. Quando ele me ver de dia serei apenas um déjà vu meio embaçado. E diante de tudo isso, eu enlouquecerei também. Seremos dois loucos nas noites sem lua, embolados por todos os cantos sem ver um ao outro. Eu amo esconder tudo isso nos meus sorrisos de indiferença enquanto ele me percorre com os olhos e pergunta daonde diabos ele tirou tanto desejo assim. A história é que eu não presto para nada a não ser despertar o que há de maior nas pessoas. Bom, não foi isso que eu disse para ele, nós continuamos trocando perguntas sem sentido e esperando inconscientemente que a noite chegasse. "Quem é você?", ele perguntou de novo, e dessa vez eu disse "Ninguém." E mesmo assim ele não acreditou por inteiro.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

- mais;

Eu admiro você. Pronto, falei. É foda te dizer essas coisas porque você é tão não-sinto-emoções que dá risada quando eu me expresso assim. Eu entendo. As coisas que você viveu, o mundo em que você cresceu, tudo é completamente diferente. É isso que eu estou tentando dizer.
Não dá para dizer que minha vida é um mar de rosas, porque não é. Já me fodi inúmeras vezes. Já cheguei no fundo do poço, e você não. Sabe que é por isso que eu te amo? Você cresceu se fodendo, desde o começo. Eu fiquei toda complexada por causa de alguns anos na merda. A merda é a única coisa que você conhece e você não perde tempo falando tanto de si mesma, refletindo tanto. Você vive, e como vive. Você dá tanta risada o tempo todo e é tão forte, não reclama de nada. Eu admiro você.
Não que você não sofra. Dá para reconhecer o sofrimento em você quando você olha para alguns cantos, quando você reclama de algumas besteirinhas inúteis. Quando seu lábio treme. Eu reconheço o rancor enorme que você trancou aí dentro quando você chuta alguma coisa ou xinga alguém. E, apesar de saber que toda essa raiva não te faz bem, eu vejo um esforço tão grande para não gritar com o mundo por umas horas que me traz uma admiração imensurável.
Tá, tem a coisa do lugar, também. Na sua escola quem escreve sobre si mesmo é viado, e se você está triste deve ouvir um funk até esquecer. Aqui, as pessoas levam a sério, e eu me pergunto se deviam levar mesmo. Será que essa porra toda não é tudo besteira? Qual a diferença de espalhar tanta raiva para o mundo, se você vai continuar com ódio de tudo mesmo assim? Que merda que eu faço aqui, então?
Aí ó, já estou falando de mim. É de você que eu queria falar. Porque porra, você é foda. Você sofre tanto e ainda arranja tempo para me ensinar a não sofrer. Você é mais nova que eu e mais madura que minha mãe. Eu te amo, sabe? Com toda essa sua truculência. Porque você, você é foda. Você merece toda a felicidade que for possível no mundo de merda que você vive. Talvez todo mundo mereça, mas quando eu olho para você e para o monte de gente fútil que existe por aí eu percebo que sim, você merece mais. Muito mais.

(minha prima. sinceridade, palavrões, o mesmo de sempre.)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

- céu ou inferno;

O problema é que o céu me lembra ele. O céu inteiro, todos os detalhes, parecem uma descrição perfeita de sua imensidão dentro de mim. Eu tento não olhar para cima, mas é tão difícil, a luz me atrai como se fosse a última vez. E então eu desisto.
Tá tudo errado, eu penso, Eu preciso mudar. Está errado o jeito como eu fico enrolando você só pelo prazer de ter alguém para enrolar. Está errado o fato de eu falar com você e imaginar que você é ele, que eu vou olhar para o céu amanhã e vou lembrar de você e sorrir porque você ainda está aqui. Está errado com você e está errado comigo. Mas é tão bom fingir que é o certo por alguns minutos, quem sabe alguns dias? Você às vezes é tão parecido com o jeito dele de me fazer rir...
Talvez, se não fosse esse céu todo, eu até conseguisse me encantar com o seu sorriso, mesmo ele estando tão perto do chão. Eu tento me esconder mas a luz se arrasta por debaixo da porta. O problema, o grande problema, é que não há lugar aonde o céu não exista, não há lugar aonde a luz não chegue. E, sinceramente, eu não estou com a mínima vontade de procurar tamanha escuridão. Eu estou bem assim.
Mas, e você? Como é que diabos eu posso deixar você ir, quando você me ajuda de noite, quando o sol vai embora, e só sobra umas lembranças mortas e uns fiapos de luz? Como é que eu posso dizer isso para você sem você me achar uma louca? Porque afinal, eu me importo, eu me importo com o que você acha de mim, por que você existe, você está ali conversando comigo e me fazendo sentir tudo isso, e isso importa! Não é justo que você tenha que ir, a gente podia ser só amigo, não podia?
Então porquê afinal eu não paro de te dar esperanças? O que eu tenho na cabeça? Eu devo ser mesmo um monstro egoísta, e eu sei disso, então eu devia parar. Devia mesmo. Mas me soltar de você parece tão difícil! A idéia de ter você ali esperando para falar comigo quando eu chegar em casa é tão reconfortante, por mais que a gente não fale sobre nada, por mais que eu esteja fantasiando. Afinal, não faz nem meio mês que você surgiu. Porque diabos tudo isso é tão importante?
Resuma tudo, eu penso, Faça como você sempre fez e sempre deu certo. Sempre o caralho, faz tempo que isso não dá certo, faz tempo que minha cabeça está tão cheia de coisas que resumir parece impossível. Não dá para catalogar tantas idéias contraditórias, tantos sentimentos reprimidos, um céu desse tamanho. O fato é que eu não te amo, nem um pouco, nem uma fração mínima do que eu sinto por ele, e do jeito que as coisas vão isso não vai mudar. Eu vou continuar te comparando com ele e imaginando que é você mandando as mensagens pelo computador. E eu vou continuar olhando para o céu, toda manhã, pensando em como ele poderia mesmo ser você, e de noite vou pensar em como seria duro enfrentar o escuro se você não estivesse ali. É errado, mas tem tanta coisa errada no mundo... e às vezes melhorar é muito mais difícil.

(um ps: esse negócio de dia e noite é só metáfora. não vai achar que eu fico feliz de dia e triste de noite, tá?)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

- a fé solúvel;

Entenda que falarei de fé como um observador fala de algo que não tem. O que eu quero dizer aqui não tem nada a ver com igreja ou religião; eu quero falar do coração das pessoas, da capacidade de acreditar que elas têm, e de como isso me fascina.
Eu não acredito em Deus. Não acredito que tudo que vai, volta. Não acredito na justiça automática do mundo; não consigo olhar para uma pessoa que me fez um mal enorme e pensar que um dia ela vai sofrer o que eu sofri. Acredito que a única justiça que existe é aquela feita por nós, que por um sinal não é nem um pouco justa.
Eu cresci numa miscelânea de religiões. Minha mãe acredita em tudo; meu pai em nada, só em Deus. Eles nunca tentaram me influenciar, decidiram que eu tomasse meu próprio caminho, só me falaram de suas crenças de forma imparcial. Então, à medida que eu crescia e ouvia o que as outras pessoas tinham a me dizer, eu decidia em que acreditar. Escolhia, e dizia a mim mesma "é assim". Mas sempre existiu aquela vozinha no fundo da minha consciência, que me convencia de que Deus existir seria bom demais para ser verdade. Confortante demais.
Foi assim até o dia em que eu decidi deixar que minhas teorias inconscientes se manifestassem. Eu imaginei, na minha cabeça, se todos pensassem que Deus não existia e acreditassem que nós apenas ficamos inteligentes demais, sensíveis demais, e que consequentemente precisamos acreditar que alguma coisa a mais existe. Alguma coisa que dê sentido a isso tudo. Se todo mundo pensasse assim, qual seria o maior medo das pessoas?
Pensei na morte, então. Por que se Deus não existe, se ele for apenas um fruto de conforto, depois da morte não existiria nada. Nem céu nem inferno. Pura inconsciência, para sempre. E se todos acreditassem nisso, a morte nunca seria considerada uma aventura seguinte, seria apenas um ponto final. Do que as pessoas precisariam, então? Qual seria o desejo mais profundo da maioria das pessoas? Talvez, que a morte fosse mais fácil, que fosse só um caminho desconhecido. E daí para a existência de Deus, é um pequeno passo. Não seria bom que todo o mal que alguém causasse na terra fosse pago depois que a pessoa morresse?
A minha conclusão final foi que Deus é só isso, uma resposta para os nossos medos mais íntimos, mais irracionais. E eu acho que tomei essa conclusão justamente por ser racional demais, espiritual de menos. Percebi que sempre acreditei nisso, no nada, desde o começo; nunca tinha parado para pensar. Mas isso não me faz uma pessoa corajosa, acreditar que depois da morte não tem nada, por que desde que eu descobri no que realmente acreditava eu tento desesperadamente desmentir a mim mesma.
Deixando minha ausência de fé de lado, comecei a observar as pessoas à minha volta. Tanta gente que dita suas crenças, tanta gente que as guarda para si. E em muitas eu reconheci um medo enorme de morrer que as fazia acreditar, pessoas dotadas de uma fé solúvel, impura, que era apenas fruto de um desejo inconsciente. Mas, contrariando todas as expectativas, em algumas pessoas eu vi apenas... fé. Toda a fé que eu busco o tempo todo, numa pessoa só. Uma fé tão simples, tão verdadeira, incontestável. É dessa fé que eu falo como admiradora. Para tê-la é preciso tanta coragem e sinceridade consigo mesmo, tanto amor ao que quer que for que chamam o seu Deus..
Não que eu classifique as pessoas em Com fé ou Sem fé. Há muitas pessoas que eu conheço muito bem e não saberia aonde colocar; e essa classificação me seria inútil. E se me perguntar se Deus realmente existe, eu direi que acho que não, mas não tenho certeza. Porque tem uma parte de mim que quer que ele exista, uma parte que é tão infestada de medo e insegurança que às vezes me domina, Deus tem que existir, tem que existir. Na verdade, tem horas que eu penso, tanto faz, tanto fez; o que tiver que ser, será, mesmo que eu não estiver pronta para o que vier...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

- estímulo;

Sei lá, eu tenho estudado bastante, corrido bastante, saído bem menos. Tem muita gente que eu vi uma vez só esse ano. Muita gente que me faz a maior falta; sinto falta de causar nas aulas e sair todo dia para um lugar diferente. Tenho saudade de conversar sobre algo que não seja vestibular com todas as pessoas. É muito ruim essa pressão constante, parece que você está sempre atrasada, por mais que tente se adiantar.
Mas esse ano tem feito um bem enorme para mim... Eu estou tão em paz, tão tranquila. Ok, eu estou surtando por causa de vestibular e tal, mas fora isso, está tudo tão bem. Me afastei de muita gente mas me aproximei mais do que nunca de algumas outras. A pessoa fica desesperada e encontra tanta gente desesperada como ela... Eu voltei para o yoga, parei de recorrer a vícios o tempo todo, e pela primeira vez em muito tempo sinto que estou fazendo um bem enorme a mim mesma, sacrificando tanta coisa por um futuro que talvez seja o que eu preciso para ser feliz.
Ter um objetivo, e trabalhar nele como louca, é um estímulo tão forte quanto a iminência do desastre. Eu pareço uma bomba prestes a explodir, tão lotada de pressão. E, por incrível que pareça, eu estou extravasando isso de formas que me emocionam. Conversando, discutindo idéias, um patamar acima das discussões inúteis nas quais a gente costuma gastar a nossa energia. Ouvindo conselhos como nunca ouvimos antes. Absorvendo cada informação que nos leva um pouco mais perto do que sonhamos. Ter um sonho, em especial, um sonho que parece tão próximo de ser realizado. Está chegando a hora, e eu mal posso esperar para isso acabar, mas todo o cansaço vira empolgação e isso não me incomoda mais.
Quando as pessoas falam que terceiro ano é outro mundo, é mesmo. As pessoas, as rotinas, as esperanças continuam as mesmas. Mas a cabeça das pessoas muda, e se sente em casa ao perceber que todas as outras mudaram também. Eu me sinto em casa. E só ao me sentir assim eu percebi o quanto a ausência disso me fazia falta.

sexta-feira, 27 de março de 2009

- far away from the memories;

Vanessa sentou-se no murinho do jardim e cruzou os braços, puxando o casaco para mais perto de si. Lúcio sentou-se ao seu lado, afastado. Os dois olharam para o chão.
- Van, eu não sei como te falar isso.
Ela já sabia. O desfecho da noite anterior não poderia causar um final diferente. Ela passara a noite pensando nisso. Levantou-se e puxou mais o casaco.
- Lú, eu sei o que você vai dizer. - ela simplesmente não conseguia olhar para ele - Foi um erro.
- A gente não fez nada de errado.
- Você não entende..
- Entendo sim.
Não, ele não entendia não. Era muito melhor com amor, e ele não o conhecia.
- Van, eu só acho que a gente é amigo demais pra fazer essas coisas. Ontem foi só..
- Pára de complicar as coisas, Lú. A amizade não vai mudar por causa do que a gente fez.
- Eu tenho muita consideração por você, de verdade. E eu não quero que seja assim com quem eu considero.
- Tá.
- Melhor a gente voltar a ser só amigo.
- Ok. Eu também acho.
- Então.. te vejo amanhã, no lugar de sempre?
- É.
Ele se levantou também, as mãos nos bolsos, os lábios frios. Seguiu em direção ao farol, que já brilhava na escuridão iminente das sete horas. Vanessa voltou a sentar no murinho, pensando em quanta coisa pretendia dizer a ele nessa conversa, e em quanta coisa realmente dissera. Nada.
- Lú.
Ela observou o corpo dele se virar lentamente em direção a ela, como se precisasse adiar o máximo possível aquela conversa. Não pôde deixar de lembrar da noite anterior, quando estavam tão próximos como duas pessoas podem estar. Quis puxá-lo e pegar nas suas mãos, e guiá-las pelo seu corpo; dizer que estava tudo bem e não lhe dar tempo para dizer nada. Quis dizer o verdadeiro motivo pelo qual ela concordava com ele em terminar tudo.
- O que foi?
Ele mudou o peso de um pé para o outro. Vanessa colocou a cabeça nas mãos.
- Van? - ele se aproximou, hesitante.
Ela engoliu em seco. Daria qualquer coisa para ouvir seu tom preocupado outra vez. Mas não fazia sentido segurá-lo ali se não ia mesmo dizer nada. Levantou a cabeça.
- Não é nada, não. Deixa pra lá.
- Tem certeza? - ele se aproximava ainda.
- Arrã. Esquece.
Lúcio parou. Deu meia-volta e em pouco tempo perdia-se na escuridão.
- Eu te amo - sussurrou Vanessa para ninguém.
A alguns quarteirões dali, ele sussurrava também.

quinta-feira, 26 de março de 2009

- paint me a wish on a velvet sky;

Eu corria entre as árvores aquela vez em que você me chamou. Eu corria e sentia o vento e acreditava que poderia sair voando dali se corresse um pouco mais rápido. Corria mas podia ver cada tronco passando como pilares de uma catedral. Pintasse tudo de branco. A catedral podia ser enorme; eu correria entre as pilastras grossas como troncos e acreditaria que Deus me tiraria dali se eu corresse um pouco mais rápido. Eu não ouvi você me chamar porque você já estava longe, e eu continuei correndo até chegar no fim do jardim e tudo se dissolver como uma peça de teatro muito mal ensaiada, tal qual o susto que tomei, todo mundo teria visto. Girei ao redor de mim três vezes até perceber que você já estava longe e não atrás de mim. Eu ri e minha risada ecoou pelo ar como se dominasse o mundo. Deixei o mundo para trás e voltei a correr, as árvores passando agora como barras de uma prisão que me deixava cada vez mais livre. Presa dentro de mim mesma, pensei. Assim eu iria longe. E talvez tivesse ido, talvez tivesse passado por colunas gregas desbotadas ou ruínas de alguma cidade antiga se você tivesse aparecido atrás de mim novamente. Mas cheguei a voltar às árvores para girar em torno de mim mesma e buscar você com o olhar, aonde você teria ido? Quem sabe em algum subterrâneo de uma pirâmide? Eu ri, mas minha risada se submeteu ao vento agora uivante que dançava entre as árvores e me levava junto. Corri até a noite cair, as árvores se tornarem vultos à espreita e o medo me atingir, frio como gelo. Corri até que as árvores eram casas, muros e prédios, e corri acreditando que você surgiria diante de mim se corresse um pouquinho mais rápido.

quinta-feira, 19 de março de 2009

- três amores;

Seja o amor singelo de uma donzela crível,
seja o quase ardor impuro de uma meretriz
Deixe-me banhar sua pele com um rio de ouro
Brindemos à minha dor injusta e aos meus sonhos vis

Eu sou ferro, punho e fogo em seu caminho simples
Sou a verdade crua sobre cada passo imaculado
Pois seu sofrer é menos que minha primeira lágrima
Mas seu clamor é mais que meu menor enfado

Dirá que o amor te fez de cicatriz?
Deveras haverá feridas incuráveis
Eis que nenhuma delas lhe tomou de ardil

Jogue aos céus seus infalíveis brados
Julgando a dor que nunca sentirá
Crente no amor que tampouco sentiu.

(tá meio raivoso, né?)

quinta-feira, 12 de março de 2009

- São Paulo no caminho certo;

A noite parecia mais escura do que o normal, e a rua por onde eu caminhava faria minha mãe enlouquecer e me esconder no lugar seguro mais próximo, se estivesse presente. Por mais que várias pessoas suspeitas andassem nas sombras, e de terem mexido comigo mais de uma vez, eu me sentia tranquila; naquele final de semana, aquela era a minha casa. Olhei para o lado; minha prima mantinha os olhos à frente, indiferente como eu. Era isso que me fazia fugir para ali quando minha casa original se tornava insuportável; éramos só nós duas, o tempo todo, e eu me sentia tão à vontade naquelas vielas que poderia estar sozinha que o medo não me atingiria. O que eu mais temia ficava longe dali. Então, o que viesse só poderia ser lucro.
Chegamos ao fim da rua; a avenida em que desembocamos refulgia pela luz dos tantos carros e motos atravancados no trânsito. Vários mendigos se enfileiravam numa praça próxima. Continuamos a andar, sem nem perceber aonde estávamos indo, automaticamente; a pizzaria barata ergueu-se numa esquina, e entramos ali, os dez reais em moedas apertados na minha mão.
Minha prima sentou-se ao meu lado depois que fizemos o pedido, para esperar. Ela me conhecia suficientemente bem para perceber que não adiantava falar comigo agora; eu estava observando. Absorvia cada detalhe, pesando as diferenças entre aquele lugar e a cidade em que cresci.
Um par de irmãos cantava uma música sertaneja a um canto, acompanhados por alguém que tocava violão, as vozes quase abafadas pelo barulho da pizzaria. À sua frente, um casal de namorados de meia idade tomava uma cerveja, um ao lado do outro, abraçados, curtindo a música, sem conversar. À direita, meia dúzia de amigos dividiam duas pizzas, aparentemente esfomeados demais para dizer alguma coisa; e atrás deles, uma família jantava tranquilamente; o pai, a mãe, e uma menininha de mais ou menos um ano, que apontou quando um travesti entrou para falar com um homem bem vestido, sentado logo ao lado. A menina cresceria acostumada com aquilo, pensei. Cresceria acostumada a entrar em uma pizzaria e ver todo o tipo de gente, num lugar onde tudo se misturava, todas as pessoas do bairro dividiam os mesmos estabelecimentos, independente de sua posição econômica. As garçonetes avançavam entre as mesas, experientes, sem esbarrar em nada, uma expressão de intenso cansaço no rosto. A menininha aprenderia a não sentir pena das moças, que trabalhavam tanto; talvez até se tornasse uma delas. Ela apontou de novo, desta vez para a entrada; um bêbado, magro, os olhos vermelhos e as roupas sujas, entrara; ninguém pareceu reparar. Caminhou com passos trôpegos até cada mesa, pedindo comida com a voz engrolada, às vezes nem conseguindo falar. Quando se virou para mim, vi que vestia uma camiseta que deveria ser branca se não estivesse tão suja, com os dizeres "São Paulo no caminho certo."
Minha prima, preocupada com que eu pudesse me assustar, espantou o bêbado, indiferente. Quando os nossos olhares se encontraram, desatamos a rir; a cena era irônica demais. Se o caminho certo para São Paulo fosse tão trôpego, a cidade logo tombaria para um lado e dormiria profundamente, como ele estava prestes a fazer. Sabia o que minha mãe diria se me visse ali. Mas o que ela não poderia sentir, nem imaginar, era o quanto eu gostava de me misturar assim, o quanto era bom ver um pouco, quanto todos insistiam em tapar-me os olhos.

(perdão pela figura meio nada a ver, mas eu sou meio apaixonada pelo willy wonka.)

quarta-feira, 4 de março de 2009

- the life before her eyes;

E se eu crescer, conseguir tudo que quero, e mesmo assim não ser feliz?
Essa coisa toda de vestibular começou a me atormentar, e eu não conseguia colocar em palavras as minhas preocupações. É óbvio que tem aquele medo todo de não passar, perder um ano fazendo cursinho e etc. Mas, afora isso tudo, havia alguma outra coisa me preocupando e eu não sabia o quê.
Aí eu assisti esse filme (o título). E pensei tanto sobre ele que entendi.
No filme, a protagonista vê como seria a vida dela se conseguisse tudo que queria, até os desejos mais mínimos, como uma casa com uma varanda grande e uma filha chamada Emma. Mas ela não é feliz; passa o tempo todo se atormentando com coisas que aconteceram há muito tempo. E, quando chega a hora de escolher entre a sua vida e a da sua melhor amiga, ela se rende.
Pode parecer meio (muito) macabro, eu sei. Mas, encarando a história superficialmente, eu me imagino numa casa bem aberta, com um filho, morando perto dos meus pais, ainda tendo amigos antigos. Me imagino realizando todos os meus sonhos, até os mais idiotas. Será que tudo isso seria suficiente para eu esquecer algumas coisas que me atormentam desde sempre? Já faz anos e eu me lembro como se fosse hoje. Às vezes parece que todo o tempo do mundo não seria suficiente.
Ok, esquecer é demais. Mas só não lembrar o tempo todo já ajudaria muito. Não pensar nisso, não sentir tudo de novo. Eu tenho medo de nunca deixar de me atormentar. Eu não quero viver escorregando, me agarrando em qualquer coisa para me manter de pé, para sempre. Não é isso que eu quero ensinar a ninguém. Por isso que eu preciso desesperadamente ir embora dessa cidade, começar tudo de novo. O máximo que eu puder fazer, eu vou fazer.
De qualquer forma, eu me identifiquei enormemente com a personagem do filme por que eu acho que faria a mesma escolha. O medo leva à imaginação absurda. Mas se acontecesse, eu sei o que eu escolheria. Qualquer vida é melhor do que uma vida cheia de cicatrizes, principalmente quando parece que elas não nunca te deixarão em paz.


(the life before her eyes, em português: "sem medo de morrer". recomendo.)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

- ainda é tempo;

Houve um tempo em que eu era diferente. Quase outra pessoa. Eu era vaidosa, eu gostava de me arrumar e arrumar meu quarto, deixar ele sempre bonito. Eu não passava noites acordada nem dias vomitando. Eu não tinha máscaras. Eu não me escondia, nem escondia nada de ninguém. Hoje eu sou um monte de segredos amontoados. Naquele tempo, eu esperava o grande amor. Eu não ficava por ficar, não beijava sem conhecer antes, não fazia nada do qual eu fosse me arrepender depois. Eu tinha medo de tudo. Mas eu me sentia protegida de tudo. Eu me orgulhava em me sentir pura, me derretia por qualquer coisa, e não tinha vergonha de chorar, por que eu quase não chorava. Eu não era criança, mas não era adulta. Eu olhava no espelho e via a mim mesma. Hoje eu tenho dezesseis anos e estou velha. Tudo parece um caminho longo demais. Hoje eu sou experiente. Experiente parece.. nojento para mim. Eu queria ser daquelas que ficam com um por mês, ou menos, sei lá que porra que é normal. Eu queria saber o nome de todos. Queria me lembrar de cada momento.. Eu era tão ingênua, me magoava fácil, mas levantava fácil. Eu era quase uma criança, e daria tudo para voltar, fazer tudo diferente. Eu tomaria as escolhas certas. E viveria sorrindo. Hoje eu sou uma pessoa em turbulência. Acalma às vezes, mas sempre acaba vindo à tona. É como correr contra a chuva, como eu fazia quando era criança.. dá emoção, mas ela sempre acaba alcançando você. A diferença é que eu adorava me encharcar olhando para o céu depois de perder a corrida. E eu nunca desistia.
Eu sei que parece que eu tenho sessenta anos quando eu escrevo tudo isso. Mas eu sinto falta de quem eu era aos meus lindos doze anos.
Você mudou tudo.

(texto muito, muuuuuuuuuuuuito velho mesmo. mas qualquer coisa é melhor do que o desabafo ridículo e depressivo que tava aqui. eu escrevi esse texto quando tinha catorze aninhos e meio; coloquei o "dezesseis" só pra adaptar :)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

- você volta, eu volto...

Eis que me resta um feriado sem porra nenhuma para fazer. Como todos aqui são maiores de idade, eu vou realmente passar o tempo todo sozinha. Fuck them all. Eu tenho uma geladeira de vinhos e cerveja à minha disposição, toda a depressão e toda a falta de dignidade que preciso. Vou desligar o celular e ficar bêbada até cair e ninguém vai perceber. O tempo vai passar rápido e quinta feira eu vou voltar para a escola de bom humor, e dizer que o meu feriado foi o má-xi-mo. Meu único tempo sóbria vai ser para visitar a minha avó amanhã. Vou esquecer que você está aí. É bem assim.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

- nada de importante;

he: Você não é mesmo como as outras, né?
she: Eu sou como todas as outras. Só mais uma, lembra?
he: Às vezes eu olho para você e penso que alguma coisa de horrível aconteceu. Você parece mais madura que todo mundo.
she: Ótimo jeito de me chamar de velha. Vou me lembrar.

(eu disse que ia me lembrar. não são exatamente as mesmas palavras, mas foi mais ou menos isso.)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

- amigo, estou aqui.

Fodam-se, todos vocês. Não vou correr mais atrás de ninguém. Cara, olha para cá. Dá só uma espiadinha. Juro que só vai tomar alguns minutos do seu tempo. Eu estou te esperando. Que porra. Será que só você não percebeu? Eu estou cansada. É como se eu carregasse um peso comigo o tempo todo. Vão se foder. Seus putos. Oi, tudo bom, meu nome é fulano e eu amo você. Eu acredito nisso, ok? Eu realmente amo as pessoas quando eu digo. Eu amo demais. Tudo que é demais é muito mais difícil. Eu quero amar de menos, bem de menos. Eu quero olhar para a cara das pessoas e há, vocês me amam mais do que eu amo vocês. Eu sou foda. Eu não me dôo para ninguém. Eu sou de mim mesma. Eu estou sozinha por que eu escolhi. Há. Qual é a pessoa que olha para mim e não pensa, solidão? Eu quero todas as companhias do mundo, menos a da solidão. Eu não quero estar sozinha. Porra. Diga eu te amo para mim, só se você me amar. Seja meu amigo por inteiro, não pela metade. Olhe nos meus olhos quando fala comigo. Nos. Meus. Olhos. Agora, vá se foder. Eu quero estar do seu lado. Por que você não deixa? Por que eu corro atrás de todo mundo? Cala a boca. Não é por que senão ninguém corre atrás de mim. Lógico que não. Eu tenho muita gente.. Eu tenho. Então porque agora parece que o mundo é feito por várias réplicas de mim? Vão se foder, réplicas. Eu não quero alguém carente e sozinho como eu. Eu quero alguém que tenha todo mundo, e escolha a mim para contar as coisas. Eu quero fazer questão. Sabe o significado? Ques-tão. Você fazia questão de mim. Agora você faz mais questão daquele eu te amo saído do nada. Você era meu amigo. Que que é? Vai se foder. Eu estou falando a verdade. Todo mundo percebeu isso. Menos você. Por que você sempre olha para os lados. Você nunca olha para os meus olhos. Eles suplicam o tempo todo por você. Mas não, eu não preciso disso. Foda-se. Eu sou mais eu. Eu vou ler livros de auto-ajuda e parar de te perturbar. Eu juro. Só me diz uma coisa antes... O que foi que eu fiz? Eu estou te esperando.

(texto sincero, texto com palavrões. tá implícito.)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

- growing up;

Eu posso ser o que quiser, certo? É o que todos dizem.
Então eu não quero ser apenas mais uma menina cheia de vícios. Eu quero ser alguém na vida das pessoas, quero que alguém faça questão da minha presença. Quero me ralar de estudar, passar numa faculdade foda e trabalhar para conseguir um nada de salário. E conquistar tudo, crescer pelo meu esforço. Eu não quero fumar, não quero me drogar, não quero ser de qualquer um que passe na rua. Eu quero ser importante, quero ter alguém, não muitos. Quero me divertir e viajar, quero ser livre, mas quero ter para quem voltar. Eu não posso mais ser uma porra louca fútil que vai viver na casa dos pais até os trinta. Eu quero me orgulhar de mim. Quero ler mais livros, ver mais filmes, ter mais amigos, aprender mais coisas. Eu quero ter histórias para contar. Não quero ter crises de insônia ou gastrite ou porra nenhuma. Não quero ser um problema emocional personificado. Eu quero ser feliz. Eu quero amar, quero sentir amor sem dor. Quero deixar que alguém me ame. Quero conseguir falar tudo que me incomoda, quero que tudo isso passe. Eu quero chegar aos noventa anos, olhar para trás e sorrir. É só isso que eu quero.
Como faz?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

- estilhaços;

Não é justo. Há algum tempo, eu escrevia mil textos sobre você, fazia um esforço absurdo para não procurar saber da sua vida, e chorava por qualquer coisa que me fizesse lembrar dos velhos tempos. Eu daria o mundo por uma palavra sua. E, durante todo esse tempo, você me ignorou como só você sabe fazer. Você fazia questão de me mostrar como eu só aparecia na sua mente de vez em quando. Eu perdi muita coisa, enquanto me escondia atrás de mim mesma, muita coisa que eu poderia ter aproveitado, coisas que poderiam me fazer mais feliz. E eu não vi nada disso. Eu só via você. Eu não via quanta gente eu tinha do meu lado. Só via como você estava longe, e como isso fazia parecer que eu era a pessoa mais sozinha do mundo.
Eu fiz um esforço enorme e abri meus olhos de novo. Me lembro dos primeiros sorrisos de verdade, dos primeiros abraços que eu me permiti sentir; cada um deles era um presente valioso. Do alívio ao perceber que a pior parte tinha passado, eu sobrevivera a ela. E que, pedaço por pedaço, eu ia ser capaz de me reconstruir.
Foi isso que eu fiz. Reencontrei cada estilhaço, e por alguns eu tive que ir muito longe. Nessa parte você ajudou, se mantendo distante. E agora, que eu estou quase inteira, que eu coloquei o meu ponto final na nossa história, você volta desse jeito. Não é justo. Não é justo que eu chore por você de novo depois de todo esse tempo. Vai embora, para qualquer lugar, para o lugar de onde você veio, eu não quero sentir esperança de novo. Eu não sou um brinquedo de montar e desmontar, não vou me reconstruir tão facilmente dessa vez. Vai embora, por favor. Eu não quero viver pela metade, eu quero tudo, quero viver por inteiro. Eu quero ser feliz. Foda-se de quem eu gosto ou não gosto. Ao inferno com o amor que eu sinto por você. Eu quero ser feliz.
Por favor, me deixa. Você tem outras. Eu não tenho ninguém. Eu estou sozinha. Me deixa.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

- and stop crying your heart out;

Eu queria saber o que se passa dentro da sua cabeça. O que você realmente pretende me fazendo pensar em você, depois de tanto tempo, aparecendo e sumindo da minha vida. Será que eu realmente não enganei ninguém?
É muito bom quando chega um daqueles dias em que tudo parece melhor e mais feliz. Eu enxergo progressos por todos os lados. Mas então, de uma hora para a outra, eu percebo que estive na beira de um precipício o tempo todo, e que basta um sopro para me fazer cair. Você não ajuda muito com as suas ventanias.
"Ele está te usando", eu penso, só que eu nunca consigo acreditar que você seria capaz. Então você podia chegar em mim e dizer "eu estou te usando, sou um idiota e planejei isso o tempo todo", e eu aceitaria sem nenhuma surpresa e seguiria a minha vida de novo. Mas, infelizmente, eu não leio mentes. Eu só posso adivinhar, e você nunca me dá informação suficiente.
Te dou três dias para sumir de vez de novo, por mais tempo dessa vez. Não, pode ficar mais quatro dias, depois você vai embora. Ou, se você preferir, a gente pode negociar, se você prometer que dessa vez vai ficar para sempre.
Ah, desculpe, eu me esqueci. Para sempre é muito tempo.

(uns pedaços perdidos.)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

- tesouro;

A Lua cheia ilumina a praia, e as estrelas ao seu redor parecem reverenciá-la. Meus pés quentes contrastam com a areia, que absorve a luz da Lua, branca e disforme. Por um impulso, caminho em direção ao mar, e ao chegar nele, não paro. A água quente envolve carinhosamente meus pés, brincalhona, cada vez que a maré avança, produzindo o único som da noite, puro e inovado. O clima quente me conforta, e a ausência do vento dá a impressão de que eu estou num mundo morto, onde o único movimento é o meu e o da água. Inspiro o cheiro do sal e da areia molhada, e avanço mais um pouco. A água já bate na minha cintura, e admiro as pequenas ondas que se sobrepõem na pressa de fugir de mim. Sinto a paz que o lugar irradia, a paz tão procurada por muitos reside ali, simplória, como um tesouro escondido.
(é velho, mas combina com o lugar que eu fui *-* é bom estar de volta.)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

- ambíguo;

Siga um plano. Faça o que você sabe que é certo, não o que você sente que deve fazer. Não pense muito; use os momentos de solidão para dormir, ler; ter algo em que se concentrar; sorria mesmo sem vontade. Não guarde nada, grite com tudo que te estressar e chore com tudo que te fizer triste, menos aquilo; menos aquilo. Deixe rolar; não gaste tempo se decidindo, espere que as coisas aconteçam. Não fale sobre nada que você não queira lembrar. Tente agir como se nada estivesse acontecendo dentro de você. Tome um rumo; estude, saia, pergunte como todos estão. Seja você mesmo, mas não por inteiro. Se for pra chorar, chore sozinho.
Com o tempo, as coisas mudam de foco.
(quinze dias viajando, quinze dias longe daqui.)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

- instável como o futuro;

Houve uma época em que eu me senti tão sozinha que parecia que a solidão ia me engolir. É incrível como algo tão abstrato pode fazer tão mal a uma pessoa. As lembranças daqueles dias são confusas, eu estava meio desnorteada; tinha perdido muitas coisas ao mesmo tempo. Minha vida mudara completamente de uma semana para a outra, do jeito que eu mais tinha medo que acontecesse.
Me lembro do desespero e do esforço para sair dele e continuar. Foi como abrir os olhos depois de muito tempo na escuridão e no exílio; cada coisa viva na minha percepção me fazia emocionar, como se fosse uma raridade do mundo. As lágrimas vinham, inconvenientes, ao menor gesto de carinho, ou gentileza; e à menor menção ao meu passado próximo e doloroso. Eu parecia ter acabado de nascer de novo, com toda a minha sensibilidade aguçada ao máximo.
Mas, como tudo sob o efeito do tempo, essa fase passou; e o que me dominou depois disso foi a insegurança. Era como se eu olhasse para os lados o tempo todo, para conferir que havia alguém ali, que eu não estava sozinha. Parecia que eu ia desabar e implorar para que ninguém me deixasse, ao menor sinal de distância do mundo.
Hoje, ao olhar para trás, tudo isso se define como uma coisa só, uma época em que eu deixei de conhecer a paz, estando em tormentas o tempo todo. Eu aprendi, depois de tanto tempo, a trazer a paz à força para perto de mim, superficialmente; não pensar, não me preocupar, deixar para lá, esquecer disso e se preocupar com o momento. O que me incomoda é viver adiando tudo, fugindo dos problemas até que eles se forcem sobre mim, acumulados, avassaladores. Mas é melhor desabar de vez em quando do que nunca se levantar.
E quando eu penso sobre tudo isso, fica a dúvida de em qual tempo eu fui melhor, mais corajosa, mais digna. Com certeza, não atualmente. E eu me pergunto se eu ainda posso ser melhor, se isso não acabaria com as minhas forças. Já desisti de esperar que algo mais íntegro venha de mim naturalmente; talvez eu tenha que forçar isso a acontecer, também. Por mais que eu tente não pensar, não decidir, o futuro mostra sua grandeza sobre mim, exigindo respostas. E, como todos os meus problemas, esse será adiado até que eu não possa mais suportar.

(pronto, chega de textos macabros de vez. eu vou encher o saco de todo mundo com textos sobre o futuro agora ok)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

- carta: 01/02/2008;

Eu não esperava que vocês entendessem. Só esperava que acreditassem.
Vocês não sentiram os socos, os tapas e o medo. Não sentiram o gosto do sangue na boca. Não viram uma pessoa se transformar em um monstro, seus olhos se esbugalharem de raiva, e não sentiram a dor do ferro nos ombros. Vocês não sabem da culpa que se sente quando alguém que você ama se machuca por sua causa. Vocês não foram seguidos por dois anos e escutaram ameaças. Vocês não vêem uma pessoa só em todos os vultos nas ruas.
Eu não esperava que vocês entendessem. Só achava que o fato de EU dizer que é verdade seria o bastante, por que essa é a única prova que eu tenho... Nunca dei motivo algum para que duvidassem de mim... E o que eu não entendo, é por que vocês esperam que eu saiba o motivo de tudo isso, e a explicação das coisas.
Eu só esperava que vocês acreditassem. É o mínimo e o máximo que podiam fazer por mim.

(merda.)
(resumo: vão se foder, seus amigos de merda.)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

- como tudo deve ser;

Pare para pensar, e meça importâncias.

Seja sincero com você mesmo, ninguém precisa saber.
Diga pra si mesmo, as pessoas mais importantes; apenas para si mesmo.
Pense se você as trocaria por alguma coisa.
Principalmente, pense se valeria a pena.

Seja sincero! O que é mais importante, a sua vida social ou os seus amigos de verdade?
Você abriria mão de tudo por alguém?
O que é mais importante, a confiança dos seus pais ou a liberdade que existe sem ela?
A sua família, ou aquelas pessoas que apareceram agora na sua vida? A qual dos dois você dá mais atenção?

Seja sincero.

E prepare-se, para se surpreender com algumas respostas; para descobrir que elas estão erradas, que elas não seguem seus princípios de criança. E para não se importar nem um pouco com isso!

E prepare-se mais ainda; para perceber que não é assim só com você...
Que muitas pessoas te trocarão por simples prazeres momentâneos; que muitas te perderiam por uma simples conveniência. Separe, aquelas que você tem certeza que te dão importância; e aquelas que fazem um trato silencioso de fingir até que não seja mais necessário.
Isso, é pra você não se desesperar, quando essas pessoas sumirem da sua vida.

(muito, muito, muito velho, eu sei. mas eu não to conseguindo escrever. 2009, coisa demais pra pensar, sabe? e eu gosto desse texto. além do mais, eu preciso tirar aquele texto macabro daqui.)