quinta-feira, 12 de março de 2009

- São Paulo no caminho certo;

A noite parecia mais escura do que o normal, e a rua por onde eu caminhava faria minha mãe enlouquecer e me esconder no lugar seguro mais próximo, se estivesse presente. Por mais que várias pessoas suspeitas andassem nas sombras, e de terem mexido comigo mais de uma vez, eu me sentia tranquila; naquele final de semana, aquela era a minha casa. Olhei para o lado; minha prima mantinha os olhos à frente, indiferente como eu. Era isso que me fazia fugir para ali quando minha casa original se tornava insuportável; éramos só nós duas, o tempo todo, e eu me sentia tão à vontade naquelas vielas que poderia estar sozinha que o medo não me atingiria. O que eu mais temia ficava longe dali. Então, o que viesse só poderia ser lucro.
Chegamos ao fim da rua; a avenida em que desembocamos refulgia pela luz dos tantos carros e motos atravancados no trânsito. Vários mendigos se enfileiravam numa praça próxima. Continuamos a andar, sem nem perceber aonde estávamos indo, automaticamente; a pizzaria barata ergueu-se numa esquina, e entramos ali, os dez reais em moedas apertados na minha mão.
Minha prima sentou-se ao meu lado depois que fizemos o pedido, para esperar. Ela me conhecia suficientemente bem para perceber que não adiantava falar comigo agora; eu estava observando. Absorvia cada detalhe, pesando as diferenças entre aquele lugar e a cidade em que cresci.
Um par de irmãos cantava uma música sertaneja a um canto, acompanhados por alguém que tocava violão, as vozes quase abafadas pelo barulho da pizzaria. À sua frente, um casal de namorados de meia idade tomava uma cerveja, um ao lado do outro, abraçados, curtindo a música, sem conversar. À direita, meia dúzia de amigos dividiam duas pizzas, aparentemente esfomeados demais para dizer alguma coisa; e atrás deles, uma família jantava tranquilamente; o pai, a mãe, e uma menininha de mais ou menos um ano, que apontou quando um travesti entrou para falar com um homem bem vestido, sentado logo ao lado. A menina cresceria acostumada com aquilo, pensei. Cresceria acostumada a entrar em uma pizzaria e ver todo o tipo de gente, num lugar onde tudo se misturava, todas as pessoas do bairro dividiam os mesmos estabelecimentos, independente de sua posição econômica. As garçonetes avançavam entre as mesas, experientes, sem esbarrar em nada, uma expressão de intenso cansaço no rosto. A menininha aprenderia a não sentir pena das moças, que trabalhavam tanto; talvez até se tornasse uma delas. Ela apontou de novo, desta vez para a entrada; um bêbado, magro, os olhos vermelhos e as roupas sujas, entrara; ninguém pareceu reparar. Caminhou com passos trôpegos até cada mesa, pedindo comida com a voz engrolada, às vezes nem conseguindo falar. Quando se virou para mim, vi que vestia uma camiseta que deveria ser branca se não estivesse tão suja, com os dizeres "São Paulo no caminho certo."
Minha prima, preocupada com que eu pudesse me assustar, espantou o bêbado, indiferente. Quando os nossos olhares se encontraram, desatamos a rir; a cena era irônica demais. Se o caminho certo para São Paulo fosse tão trôpego, a cidade logo tombaria para um lado e dormiria profundamente, como ele estava prestes a fazer. Sabia o que minha mãe diria se me visse ali. Mas o que ela não poderia sentir, nem imaginar, era o quanto eu gostava de me misturar assim, o quanto era bom ver um pouco, quanto todos insistiam em tapar-me os olhos.

(perdão pela figura meio nada a ver, mas eu sou meio apaixonada pelo willy wonka.)

4 comentários:

  1. muito boom tatah =]
    acho que voce também observa td que nem eu quando tô em um lugar diferente, brisa a lot.
    e sao paulo está mesmo tropego e estacionado..

    o poema é aquele sim, que eu mandei pro hugo.. HAUHAU

    :*

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  2. Ficou mesmo preto heim? Eu tinha achado que era do post anterior.
    Eu penso que São Paulo está exatamente como esse bebado ahahahahah e eu que sempre amei minha cidade, agora me preparo para uma futura e dolorosa ressaca.
    Adoi a imagem (do texto eu digo) e do Willy.

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  3. rsrs, willy é legal!

    Saudadeeeeee! PS: Eu vooltei!!

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