sexta-feira, 27 de março de 2009

- far away from the memories;

Vanessa sentou-se no murinho do jardim e cruzou os braços, puxando o casaco para mais perto de si. Lúcio sentou-se ao seu lado, afastado. Os dois olharam para o chão.
- Van, eu não sei como te falar isso.
Ela já sabia. O desfecho da noite anterior não poderia causar um final diferente. Ela passara a noite pensando nisso. Levantou-se e puxou mais o casaco.
- Lú, eu sei o que você vai dizer. - ela simplesmente não conseguia olhar para ele - Foi um erro.
- A gente não fez nada de errado.
- Você não entende..
- Entendo sim.
Não, ele não entendia não. Era muito melhor com amor, e ele não o conhecia.
- Van, eu só acho que a gente é amigo demais pra fazer essas coisas. Ontem foi só..
- Pára de complicar as coisas, Lú. A amizade não vai mudar por causa do que a gente fez.
- Eu tenho muita consideração por você, de verdade. E eu não quero que seja assim com quem eu considero.
- Tá.
- Melhor a gente voltar a ser só amigo.
- Ok. Eu também acho.
- Então.. te vejo amanhã, no lugar de sempre?
- É.
Ele se levantou também, as mãos nos bolsos, os lábios frios. Seguiu em direção ao farol, que já brilhava na escuridão iminente das sete horas. Vanessa voltou a sentar no murinho, pensando em quanta coisa pretendia dizer a ele nessa conversa, e em quanta coisa realmente dissera. Nada.
- Lú.
Ela observou o corpo dele se virar lentamente em direção a ela, como se precisasse adiar o máximo possível aquela conversa. Não pôde deixar de lembrar da noite anterior, quando estavam tão próximos como duas pessoas podem estar. Quis puxá-lo e pegar nas suas mãos, e guiá-las pelo seu corpo; dizer que estava tudo bem e não lhe dar tempo para dizer nada. Quis dizer o verdadeiro motivo pelo qual ela concordava com ele em terminar tudo.
- O que foi?
Ele mudou o peso de um pé para o outro. Vanessa colocou a cabeça nas mãos.
- Van? - ele se aproximou, hesitante.
Ela engoliu em seco. Daria qualquer coisa para ouvir seu tom preocupado outra vez. Mas não fazia sentido segurá-lo ali se não ia mesmo dizer nada. Levantou a cabeça.
- Não é nada, não. Deixa pra lá.
- Tem certeza? - ele se aproximava ainda.
- Arrã. Esquece.
Lúcio parou. Deu meia-volta e em pouco tempo perdia-se na escuridão.
- Eu te amo - sussurrou Vanessa para ninguém.
A alguns quarteirões dali, ele sussurrava também.

2 comentários:

  1. Ela deveria ter dito para ele '-'

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  2. Por que será que é tão díficil dizer aquilo que a gente mais tem vontade?

    Bela história, triste, mas bela.

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