quinta-feira, 26 de março de 2009

- paint me a wish on a velvet sky;

Eu corria entre as árvores aquela vez em que você me chamou. Eu corria e sentia o vento e acreditava que poderia sair voando dali se corresse um pouco mais rápido. Corria mas podia ver cada tronco passando como pilares de uma catedral. Pintasse tudo de branco. A catedral podia ser enorme; eu correria entre as pilastras grossas como troncos e acreditaria que Deus me tiraria dali se eu corresse um pouco mais rápido. Eu não ouvi você me chamar porque você já estava longe, e eu continuei correndo até chegar no fim do jardim e tudo se dissolver como uma peça de teatro muito mal ensaiada, tal qual o susto que tomei, todo mundo teria visto. Girei ao redor de mim três vezes até perceber que você já estava longe e não atrás de mim. Eu ri e minha risada ecoou pelo ar como se dominasse o mundo. Deixei o mundo para trás e voltei a correr, as árvores passando agora como barras de uma prisão que me deixava cada vez mais livre. Presa dentro de mim mesma, pensei. Assim eu iria longe. E talvez tivesse ido, talvez tivesse passado por colunas gregas desbotadas ou ruínas de alguma cidade antiga se você tivesse aparecido atrás de mim novamente. Mas cheguei a voltar às árvores para girar em torno de mim mesma e buscar você com o olhar, aonde você teria ido? Quem sabe em algum subterrâneo de uma pirâmide? Eu ri, mas minha risada se submeteu ao vento agora uivante que dançava entre as árvores e me levava junto. Corri até a noite cair, as árvores se tornarem vultos à espreita e o medo me atingir, frio como gelo. Corri até que as árvores eram casas, muros e prédios, e corri acreditando que você surgiria diante de mim se corresse um pouquinho mais rápido.

Um comentário:

  1. um dia, eu quero escrever tão bem como você escreve! eu amei esse texto, amei mesmo

    ResponderExcluir