quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

- instável como o futuro;

Houve uma época em que eu me senti tão sozinha que parecia que a solidão ia me engolir. É incrível como algo tão abstrato pode fazer tão mal a uma pessoa. As lembranças daqueles dias são confusas, eu estava meio desnorteada; tinha perdido muitas coisas ao mesmo tempo. Minha vida mudara completamente de uma semana para a outra, do jeito que eu mais tinha medo que acontecesse.
Me lembro do desespero e do esforço para sair dele e continuar. Foi como abrir os olhos depois de muito tempo na escuridão e no exílio; cada coisa viva na minha percepção me fazia emocionar, como se fosse uma raridade do mundo. As lágrimas vinham, inconvenientes, ao menor gesto de carinho, ou gentileza; e à menor menção ao meu passado próximo e doloroso. Eu parecia ter acabado de nascer de novo, com toda a minha sensibilidade aguçada ao máximo.
Mas, como tudo sob o efeito do tempo, essa fase passou; e o que me dominou depois disso foi a insegurança. Era como se eu olhasse para os lados o tempo todo, para conferir que havia alguém ali, que eu não estava sozinha. Parecia que eu ia desabar e implorar para que ninguém me deixasse, ao menor sinal de distância do mundo.
Hoje, ao olhar para trás, tudo isso se define como uma coisa só, uma época em que eu deixei de conhecer a paz, estando em tormentas o tempo todo. Eu aprendi, depois de tanto tempo, a trazer a paz à força para perto de mim, superficialmente; não pensar, não me preocupar, deixar para lá, esquecer disso e se preocupar com o momento. O que me incomoda é viver adiando tudo, fugindo dos problemas até que eles se forcem sobre mim, acumulados, avassaladores. Mas é melhor desabar de vez em quando do que nunca se levantar.
E quando eu penso sobre tudo isso, fica a dúvida de em qual tempo eu fui melhor, mais corajosa, mais digna. Com certeza, não atualmente. E eu me pergunto se eu ainda posso ser melhor, se isso não acabaria com as minhas forças. Já desisti de esperar que algo mais íntegro venha de mim naturalmente; talvez eu tenha que forçar isso a acontecer, também. Por mais que eu tente não pensar, não decidir, o futuro mostra sua grandeza sobre mim, exigindo respostas. E, como todos os meus problemas, esse será adiado até que eu não possa mais suportar.

(pronto, chega de textos macabros de vez. eu vou encher o saco de todo mundo com textos sobre o futuro agora ok)

3 comentários:

  1. ótimo texto, bem escrito, solto, bom de ler.
    Parabens, gostei daqui.
    Maurizio

    ResponderExcluir
  2. Eu tive uma fase muito sombria (que agora vou compartilhar aqui nesse grupo de ajuda a pessoas com câncer de testículos) que eu não sei como entrei e não sei como sai. Foi doloroso demais até para lembrar, e tudo que eu aprendi podem ser resumidos em três pontos.
    - Nunca voltar para aqueles estado. Custe o que custar.
    - Dor é real demais.
    - nao sei o terceiro. Mas é talvez que nessa hora que sabemos até que fundo de poço podemos ir.
    Eu não quero voltar lá.

    ResponderExcluir
  3. E eu me pergunto se eu ainda posso ser melhor, se isso não acabaria com as minhas forças.

    você pode! (:

    ResponderExcluir