quinta-feira, 1 de outubro de 2009

- a dor;

No outono, a brisa empurra levemente as ramas e em sua sutileza desprende as velhas folhas... uma a uma... que caem numa sutil dança de sofrimento, transformando a paisagem em um mosaico de galhos secos delicadamente melancólico e poético. Tão simples, como as parreiras de solo pobre e clima severo trazendo em seu sofrer os melhores vinhos. Tão verdadeiro como o choro de um rebento em sua primeira inspiração. Dor! Turva a inércia dos boçais em futuro pródigo, inibe o colapso estático da morte, rompe retrógrados paradigmas. Transforma! Transforma em algo bom aquilo que não pode ser vivido.
Em seu balançar, o pêndulo do velho relógio agride silenciosamente o ar em sua dinastia de escrever o tempo. Um barco singra sorrateiro o espelho dos rios, rasgando sua face serena em busca de seu destino. O rigor do movimento fere as centelhas da vida, muitas vezes percebido apenas no estrondo das remotas geleiras rompidas pelas estações mais quentes, mas quase sempre dissimula as grandes máculas que há escondidas na solidão de um poeta.
Ostentar a dor como a morada, torna-se nobre quando o destino é traduzido nas escolhas mais certas. E quando as chagas acalentam os sentidos pela vida em sua plenitude, pelos sonhos bons, pelo sacrifício a quem se ama. Então clamo: Que venham os colossais tornados e vulcões! Que sangrem as terras, revolte os mares e arrebatem o tudo! E por fim, curvem seu ápice em meu peito!... pois sereno... viverei a beleza sublime de sofrer por alguém que vale a pena.

(meu exemplo - meu pai.)

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