quarta-feira, 18 de novembro de 2009

- só na teoria

Com o avanço no conhecimento a que chegamos hoje, é possível uma análise mais detalhada sobre as idéias e expectativas provenientes de cada fato histórico. Ao compararmos o que nossos antepassados esperavam do mundo ao que ele realmente é, várias ilusões se contrastam com a realidade.
Há apenas vinte anos, o maior símbolo da divisão do mundo entre duas ideologias ia ao chão, e as pessoas esperavam um futuro próximo de união e paz. A mesma expectativa de inclusão e homogeneidade foi originada na mente dos brasileiros quando nosso país se tornava uma república, em 1889, o modelo político das grandes potências. Essa visão idealizada de um mundo mais uniforme vem se firmando ao longo dos anos, uma mistura de sonho capitalista e igualitário, pela qual tantas mudanças foram realizadas, desde a Revolução Francesa.
E o que conseguimos com tudo isso está claro nos dias de hoje. Metodicamente falando, a era capitalista está no seu auge, como o esperado; e a cultura mundial se massifica numa só. Mas será que é isso que buscávamos? Os ideais de igualdade e solidariedade pelos quais tantas mortes ocorreram só existem na teoria; não é isso que conta para a justiça, a lei, o poder executivo. O que as pessoas pretendiam ao reivindicar mudanças era uma inclusão social, uma justiça mais cega, uma distribuição dos privilégios; não é essa a essência de nossa evolução. O fundamento da globalização é a manipulação das massas, e só parte do mundo está sujeita a ele. As desigualdades são gritantes por todos os lados: entre países, entre estados, entre pessoas que vivem na mesma rua.
Tanta coisa mudou, e tantas outras permanecem até hoje. O muro de Berlim caiu, a União Soviética não existe mais, mas Cuba sofre até hoje com um bloqueio econômico já sem fundamento. O mundo que foi projetado torna-se uma utopia, que se consolida a cada aceitação silenciosa a que nos sujeitamos todos os dias.
A verdade é que a justiça do mundo não depende de modo objetivo do regime político sob o qual vivemos, ou de quanta informação chega até nós. A igualdade é feita por pessoas, pelos seus interesses, e por suas diferenças. O mundo não é uma mentalidade só, e não poderá ser enquanto cada um não ceder uma parte de seus desejos e aceitar algo completamente diferente. E, até que isso aconteça, as revoluções e lutas ideológicas realizadas até hoje terão sido em vão.

(dissertações políticas indignadas mode on)

Um comentário:

  1. querida, um belo texto
    gostei de sua argumentação, das comparações, a forma como abordou, a linguagem, sua convicção. Enfim, além de um coração poético, agora uma teórica política. Eu, com sua idade, com certeza não escreveria 50% do que escreveu. Pra mim, esse texto confirma sua habilidade de lidar com conceitos abstratos. Além do que, falar de mundo, de política, de ideologias não é fácil.
    Gostei especialmente dum trecho, e vou copiar e colar no meu blog, e já estou me autorizando a isso...rs

    um abraço
    obrigado pela visita
    acredito muito em voce

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