sábado, 8 de agosto de 2009

- vermelho-sangue;

A caneta escorregava da minha mão suada, mas eu não parei. Sabia que seria impossível continuar depois que parasse. Abri minha mente para cada detalhe tão escurecido pelo tempo, e percebi que lembrava de tudo, como se fosse ontem, como se eu tivesse revivido cada lembrança dia após dia, ano após ano. Percebi que tremia, mas não parei, não tirei os olhos do papel, nem quando as lágrimas começavam a cair e borrar o que eu acabara de escrever. Soluçar tornava tudo mais difícil ainda. Tentei respirar fundo, mas o ar parecia estar preso na minha garganta. Soltei a caneta, automaticamente, quando as lembranças ficaram mais cruéis. Enterrei a cabeça nas mãos, joguei algumas coisas na parede, roí as unhas até a carne, e voltei a escrever. Minhas mãos pesavam como chumbo. Fora apenas o começo, mas eu me sentia exausta. Cada pedacinho do meu corpo me dizia para desistir e não lembrar mais. Toda a minha covardia gritava nos meus ouvidos, você não vai conseguir, não vai conseguir. Mas eu continuei. Eu sabia que seria horrível, e sabia que precisaria de uma força que não tinha; sabia que talvez chegasse em limites que nunca chegara antes, mas não parei. Minhas mãos ficaram mais suadas ainda do esforço, e uma das minhas unhas chegava a sangrar. O vermelho do meu sangue me cegou os olhos, e agora eu não chorava mais, só escrevia, furiosamente, como se minha vida dependesse disso. E talvez dependesse mesmo. Mas não importava, mesmo que não desse certo, mesmo que fosse tudo inútil. Não importa no que isso vai dar. Eu só continuei escrevendo, e vou continuar, até que não reste mais nada para lembrar.

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