sábado, 6 de dezembro de 2008

- o infinito entre duas escolhas;

O Sol brilhava forte no topo do céu. Ela contemplou o mar aberto à sua frente, sentindo-se parte daquele misto de verde e azul brincando pelo horizonte. Ser tão pequena e insignificante perto das milhares de vidas que se estendiam à sua volta trazia uma confortável sensação de anonimato. Colocou as mãos no rosto, respirando devagar; o calor já secara suas lágrimas. Depois de toda tempestade, vem a calmaria.
A tranquilidade era o momento que ela mais temia. Não que gostasse de se sentir desesperada; ela apenas odiava a falsa paz que sentia depois que as lágrimas secavam. Era o momento em que tudo parecia parar; o tempo, as águas, o vento; tudo estagnado numa harmonia irônica de acordo com os seus sentimentos. O silêncio pesava tão forte que ela mal podia ouvir a própria respiração; seu coração parecia bater preguiçosamente, no mesmo ritmo vagaroso que ela absorvia da paisagem. E, com o silêncio, os pensamentos fluíam; ela desistiu de tentar contê-los e entregou-se, voraz, em busca de conforto.
Um instante depois, arrependeu-se da falta de cautela.
Ao abrir sua mente para si mesma, as lembranças há tanto tempo guardadas cegaram seus olhos. Todos os momentos que ela forçara a permanecerem escondidos de seus sonhos e desejos reivindicaram seus devidos lugares; e, com eles, veio a saudade, imensa, avassaladora. O amor que sentia, somado à ausência que lutava para ignorar, ganhou força, inundando seu corpo como água fervendo, fazendo com que ela se encolhesse e arfasse. As lágrimas não vieram de novo, com suas promessas enganadoras de alívio. Devagar, sentindo os segundos como se fossem uma vida inteira, ela colocou cada sentimento maravilhoso e cruel num canto de seu coração que passava quase despercebido. E, cerrando os dentes, trancou-os de sua mente junto com todas as lembranças.
Percebeu que fechara os olhos involuntariamente. Voltou a olhar o mar, deixando que sua mente vagasse, mais controlada dessa vez.
Coração e mente. Duas entidades separadas.
Por toda a sua vida ela usara a razão para controlar o que sentia. Não deixava que seu coração fizesse o que bem entendesse de suas atitudes e intenções; reprimia-se cada vez que ele rumava para caminhos perigosos. Vigiava com os pensamentos, bem de perto, cada afeição ou desgosto que sentia; no intento de não fazer idiotices ou iludir-se por amor. Agora, o tempo em que mantinha esse controle parecia ter acontecido num outro século.
Reconheceu o amor verdadeiro assim que ele começou a nascer, alimentando-se de suas forças. Ele parecia tão bonito e sincero que não o reprimiu. Deixou que ele envolvesse seus sonhos, suas ações; mal percebeu quando ele abraçava sua mente, dominando-a; trazendo-a para perto de seu coração, unindo os dois como se nunca, nem por um segundo, eles tivessem vivido separados. O amor trouxe a esperança a tiracolo; a certeza de que nunca estaria sozinha a dominou, e foi em sua função que ela passou a escolher seu caminho. E, em todo esse processo, ela foi a mulher mais feliz do mundo.
Mal percebeu quando o tempo passava e sua felicidade se tornava sua própria armadilha. E, quando tentou se livrar do laço que unia seu coração e sua mente, não o encontrou; eles agora eram um só. E o amor que ela sentia impregnou-se em tudo que fazia, tudo que pensava; ela podia vê-lo em cada gesto; uma marca de afeição e dor. A esperança se fora, e a certeza mais importante de sua vida quebrou-se como vidro; cortando, sangrando por dentro. E, com o tempo, ela foi tomada pela dúvida.
Ao pensar em todos os momentos felizes que viveu, ela sentia a esperança tola confortá-la por alguns instantes. Então seu coração traiçoeiro guiava sua mente até o presente, e ela não podia acreditar que conseguiria sentir amor e ser feliz ao mesmo tempo.
Ali, à beira do infinito, ela pensou, por muito tempo, em qual parte de si deveria acreditar; passado ou presente, amor ou descrença. Mas, quando o Sol já se recolhia e as estrelas começavam a surgir, ela ainda não sabia aonde para onde olhar.
Levantou-se e caminhou em direção à rodovia. Ao chegar na estrada, uma nova palavra formou-se em sua mente: futuro.

(texto feito pra minha irmã, a Anna Banana que eu amo tanto. eu pensei muito no que escrever; mas eu não conseguiria fazer um texto pensando nela que não falasse de amor verdadeiro. então, que ela leia a sua própria história, e encare o final como uma dica da sua irmã mais velha: pra onde olhar.)

3 comentários:

  1. você é linda, como seus textos. você sabe como eu fico qndo leio os seus textos e o orgulho que eu tenho de poder te chamar de irmã. eu te amo MUITO, independente de tudo e de todos. obrigada pelo texto, pode deixar, que ele vai ser uma das fontes que eu vou recorrer nos melhores e piores momentos, assim como eu faço com vc. s2

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  2. Teus textos me impressionaram, foi muito bom ler. A fluidez que vc coloca no que escreve. A facilidade.Muito bom.
    Parabens sinceros pelo teu blog. E pela beleza, e franqueza de teus posts.
    Tenha um feliz domingo.
    Maurizio

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  3. QUE LINDO!!!

    "A tranquilidade era o momento que ela mais temia. Não que gostasse de se sentir desesperada; ela apenas odiava a falsa paz que sentia depois que as lágrimas secavam."

    Jura?

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