quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

- sol de inverno;

A insônia me roubava mais algumas horas de tranquilidade. Eu não queria acordar pra esse dia.
Por trás dos olhos fechados, eu lutava contra as imagens que começavam a surgir na minha mente. De alguma forma, saber que tudo aquilo aconteceu há exatamente um ano atrás me obrigava a lembrar cada detalhe que eu tentava excluir da minha memória.
Eu vi, e quase pude sentir, o nosso primeiro beijo; exatamente há um ano atrás.
Me encolhi na cama. Há alguns meses eu choraria, e sentiria a dor me invadir, inevitável como sempre; mas o tempo passou e adormeceu as feridas mais fortes. Agora, a dor era como o frio; trazia consigo a mesma pele arrepiada, os mesmos abraços em volta de si, e o mesmo incômodo constante, porém suportável. Tremi. Era como se o gelo abraçasse meu corpo de dentro pra fora, como se a única forma de eu me aquecer de novo fossem aqueles braços em volta de mim.
Forcei meus pensamentos a irem embora. Eu precisaria de muita força de vontade pra sobreviver àquele dia.
Minha mente vagou por várias inutilidades até parar em um certo rosto. Quase sorri. Depois de tanto tempo em um inverno congelante, ele havia surgido em minha vida como um Sol no céu nublado. O meu Sol de inverno; daqueles que não aquecem completamente, mas trazem consigo um dourado fosco que anima o ambiente. Eu já havia me acostumado a ficar mergulhada no frio e no escuro, tanto que quase não reparava neles; o alívio que me inundou ao perceber sua ausência se tornou um vício. Automaticamente, ao visualizar aquele rosto em meio aos meus pensamentos, eu senti um calor confortável e relaxei os músculos. Me perguntei, pela milésima vez, o que eu sentia pelo meu Sol de inverno.
Abri meus olhos e olhei no relógio. Ainda era cedo.
Decidi me atormentar com essa pergunta sem resposta mais tarde. Concentrando-me, quase sem sucesso, em não me lembrar de todas as palavras e gestos que eu sentira há um ano atrás, fechei os olhos. Tentei me livrar da preocupação de que essa tática não funcionaria por muito tempo; ao longo daquele dia eu me encolheria periodicamente, procurando me aquecer; mas não consegui.
Então, deixando que o Sol aquecesse meu coração, me entreguei a sonhos mais seguros.

(esse texto eu escrevi sobre ontem, dia 3.)

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