sábado, 22 de novembro de 2008

- uma pequena analogia;

O jovem moço deitou sob a relva e abraçou os joelhos. Deitado, ali mesmo, corria. Temia que a dor chegasse primeiro.
Fechou os olhos. Ignorou o frio da chuva e do vento, e começou a lembrar.
Voltou ao primeiro dia, àquela mão branca e fina que parecia leve o suficiente pra que o vento a levasse. Lembrou-se do quanto sonhou antes de poder finalmente roçar sua pele naquelas mãos de cristal. Quase pôde sentir o cheiro doce de seu cabelo, sempre preso ao coque de bailarina gracioso; percorreu os olhos sobre seu corpo de menina e de moça, os traços ínfimos que cansou de memorizar, a cada dia, a cada minuto que passava entorpecido pela sua existência quase tangível. A água em sua boca se confundiu com o gosto daqueles lábios finos e delicados; involuntariamente, estendeu as mãos, procurando, esperando.. manteve-se alheio ao barulho das gotas de água esparramando-se à sua volta, e ali, debaixo da chuva, sob o frio do vento, quase pôde ouvir a sua voz.
Não distraiu-se nem quando um trovão rugiu ao longe.
Correram por aí, no tempo que se seguia, histórias incertas sobre aquele moço, jovem moço, que dormira forçando seu coração a bater, e que ele assim estaria, por mais que desabasse o mundo.. Muitos foram vê-lo, contra várias doenças foi medicado, por muito tempo foi presenteado com visitas dos mais variados tipos de religião. Mas o tempo apagou as lembranças, hoje já esquecido, ele dorme, por mais que desabe o mundo.
Ele dorme e sonha, sorri e chora, e sussurra para si mesmo as notas da música que outrora ela dançava, com seus pés de moça e sorriso de criança. Há quem diga que ele espere, outros já desistiram de confabular. Mas há quem saiba que ele só teme a dor que sentirá ao acordar, e o futuro incerto que o espera ao desistir de evitá-la. Há quem saiba, que por mais que ele corra, um dia ele perderá a luta; quando seus pés não puderem mais aguentar. Cai a chuva, passa o vento.. E ele continua dormindo.

(Hoje eu percebi, o porque de tanta falta de inspiração; e eu percebi também que estava na minha cara o tempo todo.
Cada sentimento descrito por mim sempre procura a definição perfeita; como explicar completamente meu estado de espírito, mesmo que de forma indireta. Eu nunca consigo isso, mas eu sempre tenho uma pequena idéia daonde eu quero chegar.. do que eu preciso tirar de mim, pra que pare de me atormentar; ou da felicidade que eu desejo mostrar pro mundo. E, ultimamente, nenhuma palavra parecia ser completa e intensa o suficiente.
Por que eu não sabia, não entendia, o que me atormentava.. do que eu estava precisando, qual o alívio que eu buscava com tanta ansiedade. Eu já havia desistido. Até que eu baixei a canção de ninar que o Edward fez pra Bella (que vai tocar no filme), ouvi, e chorei. É uma composição só de piano, linda, mas que normalmente não faria as pessoas chorarem. E eu chorei..
E eu percebi que não eram as palavras que estavam tão incompletas.. era eu mesma.
Eu sou o maior exemplo que eu conheço de fraqueza, de dependência, e de medo. Eu já senti muita dor. E o medo de sentir isso de novo afasta de mim tudo que eu amo, todas as pessoas que me dão esperança; isso suga as minhas forças, me desidrata, por que eu dependo irremediavelmente dessas pessoas; da certeza e da incerteza que elas me dão ao mesmo tempo. Eu percebi, hoje, que eu estou procurando às cegas por algum pedaço de mim que eu deixei por aí. E que essa busca sem direção acaba com toda a alegria que eu consigo reunir, como água resvalando por entre os meus dedos..
Ah, da forma mais idiota possível, eu percebi que eu quero um amor com todas as minhas forças.. eu quero um abraço forte, que me proteja e me aqueça; eu quero um olhar que traduza devoção, compromisso; eu quero que isso dure até não poder mais, que seja real, não apenas nos meus sonhos. Eu não quero mais acabar com tudo e viver com migalhas por aí. Eu preciso de algo muito maior do que isso.
E agora, só me resta não deixar mais que esse aperto no estômago constante me atrapalhe quando eu for escrever.. por que eu sei, eu me conheço; amar não é mais tão fácil pra mim, e não é tão cedo que isso vai acontecer.
Essa é só uma explicação do por que de tanta ausência daqui. E tomara que eu volte a escrever, logo.)

2 comentários:

  1. Achei que já havia comentado... enfim, eu li o texto há uns dias atrás e acho que depender de alguém é ruim, e você não precisa disso Tatah, não precisa ter medo entende? Mas acho também que é algo que desenvolvemos sozinhos. Só tenho a dizer que você não precisar depender o tempo todo do que alguém te fala e que não precisa ter medo, você é forte e vai superar cada tropeço que der durante a vida...
    Quero te ver po, vamos juntas ver Crepúsculo ein! :* querida

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  2. Antes de mais nada, até sua dor é linda.
    Mesmo que o primeiro texto não faça muito sentido pra mim, o segundo, como sempre, fez um estrago danado no meu equilibrio. Mas foi bom.
    O que vc diz não me dá confiança para acreditar que as coisas vão melhorar, mas me dá uma empatia enorme por saber o que é, e saber que dá pra contornar.
    Assim como você, o que eu escreve e como eu escreve é reflexo de quem eu sou e como estou. Eu estou vazia, eu não tenho palavras. mas eu tenho uma confiança gigante de que esse vazio vai ser sempre vazio, mas esse espaço que a gente troca de coisas pode ser muito mais importante do que só esse pedaço vazio entende? Eh complicado, mas só pra dizer que eu simpatizo muito com a sua situação porque estou na mesma. Os poetas sempre serão assim certo?

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