quinta-feira, 7 de agosto de 2008

- milhares de intenções;

E aí, em algumas poucas palavras incontidas, ele revirou seu estômago de ponta cabeça e provocou uma série de lembranças indesejáveis. Não que a intenção fosse essa; na verdade, a conversa foi simples, carregada de uma implicidade mútua, dolorida, pacífica. A cada comentário casual ela sorria e entendia; e ela entendia com tanta certeza que tudo não teria sentido se fosse de outro jeito. Mas então, por que ela sorria? E eles foram conversando assim, subliminarmente, na ânsia de não dizer nada de modo nem ligeiramente direto; mandando excessos de sorrisos nervosos e perguntando coisas tão sem significado que na verdade eram uma tentativa considerável de continuar o assunto. Ela lembrou-o sem querer de um comentário do passado, de tempos melhores; ele perguntou como as coisas iam indo, na verdade querendo perguntar se ela já parou de chorar por ele pra ele poder parar de sentir remorsos. E quando concluiu que sim, ganhou um ar de "tudo bem agora" que não correspondia às lágrimas sozinhas que ela derramava em silêncio.
Então, para cumprir seu dever de ex-namorado companheiro e amigo, ele acabou com a resistência de semanas que ela havia construído; rompeu cada barreira, resgatou cada sonho, recriou cada saudade e lembrança adormecida. E ela chorou de vontade de vê-lo e sentir seu perfume único de amor maldito outra vez.
Não é justo.
Ao dar a meia-noite ele referiu-se à outra; pra todos verem que o passado ficou pra trás. E ela sentiu o passado no presente, o presente insuportável, e o futuro distante de seu caminho; como se algo a puxasse para trás e a impedisse de viver mais uma vez; como se ele tivesse esse direito.
Ah, as lágrimas. Sempre gostou delas, do gosto de sal, o sabor do alívio; mas hoje, ao afogar-se no que restava delas, sentiu o amargo gosto do fel.

(um pedido de perdão pela depressão do post, mas é verídico demais pra que eu consiga escondê-lo.)

3 comentários:

  1. boa noite tai adorei o seus contos acredito que compartilho um pouco dessa dor , alías todos que se ousam a escrever compartilham esta dor..
    como diria Nietzsche : "é preciso ter o caus dentro de si p/ dar luz a uma estrela brilhante...!
    força e brio
    enzo de marco

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  2. hum... que triste.
    continua chovendo :/

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  3. Meu deu uma agonia agora, porque eu entendi cada palavra do que você disse.
    E nao que isso seja ruim, mas é como você conseguisse seguir uma linha de raciocínio tão minha! Meu deus!

    Eu ja estive no lugar dele... eu ja estive no lugar dela. É exatamente isso que pensei.

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