segunda-feira, 1 de setembro de 2008

- jardim;

Era uma daquelas festas black-tie e Mariana não se dava muito bem com o scarpin apertado. Tomando muito cuidado para não arruinar as cinco horas que passara no cabelereiro, e agindo com uma delicadeza que não possuía, procurou André em meio aos convidados arrogantes de Vanessa. Ele estava lindo vestido a rigor, meio deslocado, entre algumas modelos famosas e um executivo solitário e rabugento. Mariana foi até ele, sentindo-se como uma salva-vidas ao encarar um sobrevivente.
André não se parecia nem um pouco com a mãe. Vanessa tinha o rosto largo, era troncuda e de baixa estatura; enquanto o filho puxara o rosto longo e a altura do pai. A única semelhança era a pele clara e os cabelos negros, lisos e bagunçados no filho, hidratados e infestados de arranjos na mãe. Ela bem que se esforçara para fazer do filho um membro da sociedade alta, fino e elegante; mas André era muito diferente, o que fazia Mariana se orgulhar. Ele era a única pessoa daquele lado da família que ela realmente gostava, e que se interessava por coisas muito mais úteis e inteligentes do que manter as aparências.
Ele pareceu feliz ao vê-la; deu um daqueles sorrisos rápidos e espontâneos que ela adorava. Sem dizer nada, ele pegou sua mão e a levou para o jardim. Mariana pensou no tanto que sua mãe se esforçava para arrumá-la cada vez que Vanessa dava uma festa, e no pouco que realmente via das celebrações. A maior parte da noite era reservada a André, o jardim e as estrelas.
O scarpin foi rapidamente abandonado apenas alguns centímetros antes da grama. André a conduziu por entre as árvores posicionadas por um dos melhores paisagistas da região, até um ponto tão desprezado pelos convidados que eles jamais seriam percebidos. Sentaram-se na grama, tão à vontade quanto não estiveram apenas alguns minutos antes; um de frente para o outro. André tirou do bolso um pacote de balas de goma, e Mariana sorriu. O de sempre.
Primos distantes, só se conheceram alguns anos antes daquele dia. Foi o suficiente.
Naquela noite, a mãe de Mariana reparou nos dedos melados de açúcar e nos fiapos de grama do vestido caríssimo da filha; e o pai reparou no olhar de quem começa a se apaixonar. E, ao acordar, Mariana tinha uma flor debaixo do travesseiro.

(eu acho que continua.)

4 comentários:

  1. Hum... e eu espero que continuee!!
    rrss, faz tempo que ñ passo por aqui...
    Lindos os textos!!!

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  2. Mudei de blog Tatah. E eu quero que continue, quero saber o resto, fiquei curiosa!

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  3. adorei todo o texto e,principalmente o ritmo..o suspense..a ironia
    muito bom mesmo!!
    abraçoooo!

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